O fim da Praça da Alegria

Após ter-se mudado em Janeiro de 2013 dos estúdios da RTP no Porto para os de Lisboa, o Praça da Alegria teve esta sexta-feira a sua última emissão, ao fim de 19 anos de história. 

O fim da Praça da Alegria

O programa não resistiu ao golpe final da saída de João Baião para a SIC, que deixou Tânia Ribas de Oliveira sozinha nas manhãs da estação pública. Uma tarefa inglória que prenunciava o desinvestimento da RTP num formato que arrancou em 1995, com audiências em queda nos últimos anos. A média de Janeiro passado cifrou-se nos 205 mil espectadores e em Maio desceu até aos 167 mil. O campeão da manhã, Você na TV,  da TVI, obteve em Maio uma média de 412 mil espectadores.

Depois do intervalo estival, ocupado pelo Verão Total, o Praça da Alegria já não volta.

Hugo Andrade, director de Programas da RTP, avança ao SOL que o programa que estreará em Setembro está a ser formado e «deverá contar com Tânia Ribas de Oliveira». Para as tardes, com o final anunciado também de Portugal no Coração, Hugo Andrade confirma a contratação de Herman José. É o início de um novo ciclo na RTP.

Quando arrancou, a 18 de Setembro de 1995, com Manuel Luís Goucha e Anabela Mota Ribeiro, o Praça da Alegria era um formato novo: convidados em estúdio, num tom coloquial e em cenário de café. Luísa Calado teve a ideia, enquanto chefe de departamento de programas do Porto, e foi sua produtora até 12 de Janeiro de 2013. Nesta altura, debaixo de grande contestação de população e políticos do Norte, o programa deixou a casa mãe e passou para Lisboa, mudando toda a equipa.

Luísa Calado recorda que, «partindo de um conceito de Ágora da antiga Grécia», o programa pretendia ser um espaço de encontro onde todo o tipo de conversas e de manifestações artísticas acontecessem. Uma das novidades mais arrojadas era a de «os apresentadores e demais intervenientes terem a possibilidade de irem de um lado ao outro do estúdio, pois antes estavam sentados e tudo era estático e previsível».

A escolha de Manuel Luís Goucha tinha saído de uma espécie de casting. Num anterior programa, Porto de Encontro, o então responsável da programação do Norte, Manuel Rocha (depois director de informação da RTP) convidou várias personalidades para apresentarem este talk show: Nicolau Breyner, Ana Bola e muitos outros. Um dos últimos, Goucha, autor de uma rubrica de culinária, passou no teste de grande animador de conversas.

Depois de Bom Dia e de Momentos de Glória (na TVI), Goucha estreou o Praça da Alegria, onde ficaria sete anos – o primeiro com Anabela Mota Ribeiro e os restantes com Sónia Araújo, o rosto mais marcante de todos os 19 anos do Praça da Alegria. Sónia e  Jorge Gabriel mantiveram a parceria até há um ano, passando então a vez a João Baião e Tânia Ribas de Oliveira.

Goucha deu o nome

Manuel Luís Goucha foi o autor do nome: «A Luísa mostrou-me um programa da manhã italiano em que se inspirou e,  como era feito numa praça, sugeri o nome». A dúvida levantou-se: ‘Praça da Alegria’ remetia demasiado para Lisboa, um local cheio de memórias, do Maxime ao Ritz Club e ao Hot Club. Descobriu-se que também o Porto tinha uma praça de mesmo nome e isso garantia o objectivo de convergência nacional. Luísa Calado sustenta que o programa fugia ao centralismo e elitismo: «Teve sempre a preocupação de se manter actual, afectuoso, próximo das comunidades emigrantes e dando voz às regiões mais recônditas de Portugal».

Apresentador há 10 anos do Você na TV (na TVI, com Cristina Ferreira), Goucha, garante: «A minha escola foi o Praça da Alegria. Comparado com os programas da manhã (ou da tarde), o resto é peanuts. São programas esquizofrénicos que exigem muito do apresentador».