24 de Dezembro. O que é que o galo tem a ver com o Natal?

Há 1600 anos – mais década, menos década – que se celebra a Missa do Galo. O nome só se usa em português e espanhol. Por cá há ainda a Missa do Parto.

Começando pelo princípio. Porque é que a Missa do Galo, que celebra o nascimento de Jesus na noite de 24 para 25 de Dezembro, tem o nome desta ave da família dos fasianídeos?

Na maior parte do mundo cristão chama-se simplesmente missa da noite de Natal ou missa da meia noite. Nos países de língua portuguesa e espanhola é que há a tradição de se chamar Missa do Galo.

E não há uma apenas uma explicação para este nome. Há lendas para vários gostos. 

Uma aponta para um Papa. Terá sido Sisto III, que em 400, instituiu uma missa para celebrar o nascimento de Cristo ‘ad galli cantus’, isto é ‘à hora que o galo canta’, tendo com isto querido dizer ao início do novo dia: a meia-noite.

Há quem avance a explicação para o insólito nome escolhido com os primórdios do cristianismo, quando os cristãos iam em peregrinação a Belém onde se encontravam para rezar à hora do primeiro canto do galo. 

E também diga que há muitos muitos anos se deu o acontecimento extraordinário de um galo cantar à meia noite da véspera para o dia de Natal, assinalando a chegada de Cristo. 

Finalmente, há ainda a lenda de um galo ter assistido ao nascimento do Menino Jesus – além do burro e da vaca – tendo ficado o animal com a tarefa de para sempre festejar e anunciar a data ao mundo.

Num artigo de 2010, a Agência Ecclesia, da Igreja Católica, dá mais uma razão. Esta é de origem espanhola, e “conta que antes de baterem as 12 badaladas da meia noite de 24 de dezembro, cada lavrador da província de Toledo, em Espanha, matava um galo, em memória daquele que cantou três vezes quando Pedro negou Jesus, por ocasião da sua morte”. A seguir, a “ave era depois levada para a Igreja a fim de ser oferecida aos pobres, que viam assim, o seu Natal melhorado”.

A Agência acrescenta que havia ainda o “costume, em algumas aldeias espanholas e portuguesas, de levar o galo para a Igreja para este cantar durante a missa, significando isto um prenúncio de boas colheitas”. 

Missa no ano 400 Nomes à parte, milhões de pessoas por todo o mundo reúnem- -se nas igrejas à meia noite do dia 25 de Dezembro para celebrar o Natal. Em Portugal é o dia em que os templos mais enchem, ultrapassando a Páscoa, a mais importante das celebrações cristãs. Por tradição ou para acompanhar os membros da família após a Consoada. Aliás, apesar de se ter popularizado este nome para a noite de 24, a Consoada é uma pequena refeição – uma ceia, com uma mesa rica – que alguns ainda comem só depois da Missa do Galo. Até lá é tempo de abstinência, o que explica o peixe do jantar do dia de hoje, o tradicional bacalhau com couves.

Ainda de acordo com a Ecclesia, só no ano 400 a missa foi introduzida nas celebrações do Natal. “dado que até ali a única celebração da Igreja era a Páscoa”. A primeira destas eucaristias terá tido lugar “na basílica erigida no monte Esquilino [em Roma], dedicada a Nossa Senhora”.

As missas do parto Não é no dia 24, mas nos dias anteriores que em Portugal se mantém uma tradição curiosa, na Madeira. É a Missa do Parto, nas madrugadas dos últimos nove dias que fecham o Advento – quatro domingos antes do Natal. 
Nestas celebrações, e como o nome indica, louva-se o parto de Maria e o nascimento de Jesus. No site da paróquia da Lombada, de Santa Cruz, conta-se que as nove missas – como os nove meses de gravidez – são “celebradas antes do nascer do sol simbolizando o nascimento do Menino Jesus como ‘a luz que nasce para o mundo inteiro’”.
No final da celebração, nos adros das igrejas, “ouvem-se cânticos em honra da Virgem do Parto e do Menino Jesus e outros de cariz popular”, junto com a festa dos “licores e as ponchas acompanhados pelos bolos de mel e broas”.

Missas famosas Apesar do declínio de praticantes, a afluência é tanta nesta noite que centenas de igrejas pelo país continuam a celebrar esta missa. 
Em Lisboa, entre as mais concorridas estão a Missa do Galo na Sé, na Igreja da Encarnação – no Chiado – , na Basílica da Estrela, Igreja de Santa Isabel ou em São João de Brito. Para os interessados, os horários podem ser consultados em http://www.patriarcado-lisboa.pt/site/index.php?cont_=45&id=1247&tem=226 e acontecem entre as 22h00 e as tradicionais 24h00. 
No Porto, estão sempre cheias as da Igreja da Lapa, da Capela de Nossa Senhora de Fátima e da Igreja de São João da Foz. Uma lista completa pode ser consultada em http://www.diocese-porto.pt/ 
Em Barcelona, é famosa a da Basílica de Montserrat, acompanhada pela Escolania de Montserrat, o mais antigo coro de rapazes do Mundo.

Na Abadia de Westminster em Londres também há coro, tal como em Notre- Dame, em Paris. Nestas, até é preciso reservar lugar. 

No Vaticano, a eucaristia começa mais cedo. O Papa Francisco preside à Missa do Galo, a partir das 21h30. A missa é celebrada em várias línguas. Gilliard Gava, um brasileiro da região de Santa Catarina, vai ler uma oração em português e explicou a um jornal da sua região como costuma decorrer a cerimónia, para agradar ao maior número possível de crentes. “A Primeira Leitura geralmente é em espanhol; o Salmo em italiano; a Segunda Leitura em inglês; o Evangelho em Latim; depois vem a Homilia do Papa; e logo em seguida temos essa Oração da Assembleia, que é chamada de Prece dos Fiéis no Brasil [Oração do Fiéis em Portugal]. E nessas preces, o português é a primeira língua a fazer a leitura”. 

Crentes ou não, para os que vão à Missa do Galo ou para os que ficam em casa, o desejo é o mesmo: paz, saúde e um Natal feliz 🙂