Uma visão geopolítica

Terminada que está mais uma cimeira de Chefes de Estado e de Governo da CPLP, aberta que está uma nova Presidência, com objetivos reforçados, com ambição sufragada por esse coletivo de dirigentes ao mais alto nível, torna-se necessário pensar ainda mais nas formas de aprofundar esta organização e a rede que ela cria como campo…

Terminada que está mais uma cimeira de Chefes de Estado e de Governo da CPLP, aberta que está uma nova Presidência, com objetivos reforçados, com ambição sufragada por esse coletivo de dirigentes ao mais alto nível, torna-se necessário pensar ainda mais nas formas de aprofundar esta organização e a rede que ela cria como campo de possibilidades. E lançamos esta reflexão porque desejamos uma CPLP efetiva e ativa, porque cremos nela como instrumento fundamental para a Lusofonia e para Portugal.

Numa época em que o pragmatismo impera, numa época em que as crises e os limites económicos e financeiros abrem portas a populismos e a derivas com sabor totalitarista, urge perceber, nesse mesmo pragmatismo, como fazer política e economia em prole de um bem maior que, sendo menor que a utopia, é o fundamental para que dirigentes e instituições tenham o conforto de ter concorrido para o bem-estar das suas populações.

A CPLP na sua diversidade territorial e geopolítica, com os seus constrangimentos que advém dos percursos históricos de cada membro, com uma diversidade de culturas, com os seus desígnios de regime e nacionais e, ainda, com os seus enraizamentos regionais bastante diversos, deve procurar uma forma pragmática e eficaz de ser motor de concretização dos anseios de melhoria de cada uma das suas parcelas, concorrendo o global para a efetivação de melhorias nacionais.

Numa geopolítica em que aos ditames globais imperativos e omnipresentes, devem-se procurar as vantagens da proximidade, o valor da diferença. Uma comunidade de países, qualquer que ela seja, só terá um futuro útil aos seus membros se conseguir a arquitetura do global com o local. No caso de uma comunidade de países que se estende por realidades territoriais tão diferentes como Timor e o Brasil, por mundos culturais tão díspares como Portugal e a Guiné, esta só conseguirá servir os intentos de quem nela aposta como oportunidade se, para além de políticas claramente agregadoras do total dos membros, se desenharem políticas que desenvolvam as capacidades desta rede no nível da macro região.

Se no contexto da UE Portugal não é mais que um dos pequenos parceiros, na sua dimensão atlântica, Portugal ganha um lugar de muito maior importância. Se, no quadro global dos BRIC o Brasil parece ter dificuldades numa descolagem económica, no quadro da América do Sul o Brasil cada vez mais deverá afirmar-se como “a” potência. Se, no quadro africano, quer Angola, quer Moçambique, procuram um lugar de alguma preponderância, sempre limitada pelos restantes atores, no quadro das suas relações Lusófonas, um ganha especial espaço na dimensão Atlântica, na ligação a vários outros membros da CPLP, especialmente ao Brasil, e Moçambique abre-se ao Índico, à Índia, e mesmo a Macau e a Timor.

É neste quadro de macrorregiões, não confinadas a continentes, mas usando a cultura e o mar como liames, que a CPLP se pode potenciar como uma plataforma de redes, de ligações eficazes que trazem a cada um dos membros mais valias claras.

Sem descurar o global de uma CPLP com políticas coesas e posições cada vez mais sólidas, num mundo económico e cultural de uma ultra modernidade ou pós-modernidade, com a necessidade de um olhar crítico para a globalização e uma procura das mais valias numa escala de eficácias mais pequena e mais concreta, a CPLP ganharia membros muito mais sólidos se os ajudasse a catapultar para essas posições de liderança nos seus contextos macro regionais.

*Coordenador, Docente e Investigador da área da Ciência das Religiões Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologia