‘Agrada-me a gestão financeira do Porto’

Diz que Menezes é um ‘comissário do governo’, mas não gostava que o TC o tivesse afastado. Manuel Pizarro, candidato do PS, relativiza as más sondagens e afirma que o PS só ganhará as eleições se tiver a maioria das câmaras do país.

como explica que, nas sondagens, o seu nome surja no último lugar dos principais candidatos ao porto?

é preciso relativizar um pouco. claro que é melhor estar em primeiro nas sondagens, mas é preciso ver que as diferenças entre os candidatos estão dentro da margem de erro de todas as sondagens. e as sondagens numa cidade como o porto prejudicam sempre um pouco o ps. porque o eleitorado popular, onde nós temos uma percentagem significativa da nossa base de apoio, em grande parte não tem telefone fixo. e portanto o meu partido está relativamente excluído das sondagens. o que eu destacaria é que, ao contrário de outras eleições, em 2005 ou em 2009, ou ao contrário do que acontecia há uns meses atrás, há uma pequeníssima diferença entre a minha posição e quem vai à frente nas sondagens, que me permite ter a convicção que na sondagem final, de 29 de setembro, vou ganhar.

esperou que menezes fosse impedido de concorrer por decisão judicial, o que teria sido uma ‘vitória na secretaria’?

espero ganhar pelo mérito da minha candidatura e não por qualquer composição específica de quem são os meus adversários.

não é por menezes ser candidato que a coisa se complica…

não! acho que não.

como vê a candidatura de rui moreira? é uma candidatura independente?

tenho respeito e consideração pessoal pelo dr. rui moreira e por muitas posições que ele assume. mas, em matéria de independência é uma candidatura que deixa muito a desejar. rui moreira tem o apoio do cds, de uma facção muito importante do psd, e basta olhar para a lista para ver que está reproduzida uma parte significativa do que era a lista de rui rio nas últimas eleições. portanto, é uma candidatura que tem um candidato a presidente que não é filiado em nenhum partido mas depois é uma lista do cds e de uma parte do psd.

a sua pré-campanha tem sido focada nos contactos com a população. porquê?

não podemos esquecer que temos menos meios do que outros candidatos. a campanha do dr. menezes é absolutamente sumptuosa, com um dispêndio que nós não conseguiríamos de forma nenhuma acompanhar. por outro lado, porque eu tenho a convicção que numa fase da vida nacional como esta em que as pessoas estão tão alheadas da política e desconfiadas dos políticos o contacto pessoal é o melhor instrumento para procurar motivar a participação dos cidadãos.

espera ser capaz de votar uma parte do eleitorado de rui rio?

eu não me considero herdeiro do actual presidente da câmara. embora me agrade o facto de a câmara ter tido uma gestão financeira relativamente rigorosa. o que é positivo, até porque cria condições para que nós possamos ter agora uma maior ambição em relação àquilo que me parece essencial.

e o que é essencial para si?

ter uma câmara que ajude a economia da cidade, que ajude a atrair empresas, para que possa haver mais emprego, e que – sobretudo – faça um enorme combate às desigualdades sociais dramáticas com que o porto se confronta.

as suas propostas principais concentram-se nas áreas económica e social?

sim. sobretudo é imperioso que se mude o paradigma da acção autárquica. temos de abandonar a ideia de novas infra-estruturas – por isso é que não passa pela ideia gastar dinheiro a fazer novas pontes de vila nova de gaia, um túnel debaixo do rio douro para unir gaia ao porto e outras coisas que considero megalómanas e até disparatadas. temos de concentrar os recursos em iniciativas e actividades que melhorem a qualidade de vida das pessoas. claramente, a primeira delas tem a ver com o emprego, a segunda com a coesão social e a terceira com a cultura. é a minha visão para aquilo que são as prioridades.

há alguma proposta em concreto que destaque?

o porto tem de fazer valer o enorme potencial do seu sistema de ensino superior – a universidade do porto é a maior e a mais produtiva do país, o instituto politécnico é também muito desenvolvido – e também do seu sistema científico, e tornar-se numa cidade amiga das empresas. que facilite a incubação de empresas e a instalação de empresas na fase de pós-incubação. há muitas instalações industriais e outros espaços privados e até públicos que estão devolutos e estão ao abandono que devem ser transformados em centros de incubação de empresas e em centros empresariais modernos. talvez a ideia emblemática possa ser a transformação do antigo matadouro industrial no coração da freguesia da campanhã no centro empresarial de campanhã, que pode modificar todo o panorama, hoje, muito decadente, da zona oriental do porto e recuperar esta zona como um pulmão para a economia da cidade.

qual é a sua opinião sobre a fusão de porto e gaia?

no plano teórico é uma ideia interessante. tem várias dificuldades. primeiro, uma questão conceptual: porque se faria a fusão com gaia e não com matosinhos e não se reforçariam as ligações com os municípios da primeira coroa metropolitana? a segunda questão é que há problemas práticos que não sei como se podem resolver. dois exemplos. a dívida da câmara de gaia é duas vezes e meia superior à da câmara do porto. não é possível pedir aos cidadãos do porto que vão pagar os 350 milhões de euros que a câmara de gaia deve. o segundo ponto é o custo da factura da água em gaia é 50% superior à factura da água no porto. não pode haver um município com duas tabelas da água e não estou a ver que os cidadãos do porto queiram ver a sua factura da água aumentada 25%. não vejo como se resolvem estas questões práticas.

preocupa-o a posição do porto face a lisboa?

o porto tem um papel indeclinável na liderança da região norte. e somos confrontados com um governo que é vítima de um centralismo doentio. as malfeitorias contra o porto e contra o norte são quase inacreditáveis. o conflito que aconteceu a propósito da sociedade de reabilitação urbana (sru) porto vivo é um conflito de falta de senso. consigo ouvir todas as pessoas do porto contra o governo. todas, menos o dr. menezes, que se manteve coerentemente como comissário do governo no porto. agora, afirmação do porto e do norte não têm de ser feitas forçosamente contra lisboa. é seguramente contra o centralismo, mas eu não estou nada convencido que seja por causa da cidade de lisboa que há centralismo.

espera que a ligação de menezes ao governo contribua para a sua derrota?

acho que isso o vai penalizar, não tenho nenhuma dúvida. o dr. menezes tem tido um comportamento que na minha opinião é vergonhoso de branqueamento da acção do governo em relação ao porto. o governo desmantelou a rtp porto, retirou-lhe o principal programa que produzia – a praça da alegria – com resultados que são o de agora o programa ser mais caro a produzir e ter menos audiência, arrastando uma perda de audiência do jornal da tarde. em relação a tudo isto o dr. menezes congratulou-se pelo facto de no centro da rtp do porto passar a estar sedeada a rtp informação. não está lá sedeada coisa nenhuma.

antónio josé seguro depende de si para um bom resultado nacional nas autárquicas?

(risos) as autárquicas são 308 eleições e depende da combinação dessas 308. claro que uma vitória no porto ajudará muito a uma vitória do ps no país e eu também estou a combater por isso. também acho que é importante que os cidadãos do porto dêem um sinal sobre a sua opinião sobre a desgraçada governação que tem atacado tanto os cidadãos nos últimos dois anos.

o que será uma vitória do ps nas autárquicas? mais votos, mais câmaras?

vencer é conquistar a maioria das câmaras, isso é que uma vitória do meu ponto de vista. embora deva dizer que nesta matéria nunca foi tida em conta que uma grande parte das câmaras do psd são conseguidas em coligação com o cds.

se não vencer fica como vereador e em simultâneo como deputado na ar?

tenho a expectativa que vou ganhar. agora, tanto se serve o povo do porto sendo presidente da câmara como sendo vereador da oposição. não há dúvida nenhuma que ocuparei o meu lugar como vereador da oposição. espero que os meus adversários façam o mesmo.

isso é incompatível com a permanência na ar?

ainda não reflecti sobre isso.

manuel.a.magalhaes@sol.pt