Alerta

Se por um lado, a inflação permite que os Estados arrecadem maiores receitas fiscais, por outro têm um efeito negativo no poder de compra das famílias, levando os governos a avançar com programas de ajuda às mesmas.

Por Teresa Candeias, Diretora da Licenciatura em Gestão da Universidade Lusófona do Porto

Setembro marca, para muitos, o fim das férias e o regresso ao quotidiano. Este ano, é pautado por boas notícias, mas também por alguns alertas. Os indicadores de desempenho económico europeu referentes ao último trimestre foram agora conhecidos. De um modo geral, são animadores já que denotam uma tendência de regresso da atividade económica a níveis anteriores à pandemia. No entanto, subsistem preocupações, nomeadamente, no que diz respeito à inflação, aos níveis de confiança quer dos consumidores quer das empresas a às dívidas públicas. 

No caso da taxa de inflação, há um ano já se antevia a possibilidade de se verificar o seu aumento. À data a discussão centrava-se, apenas, se este aumento seria transitório ou não, tendo o BCE optado por manter inalteradas as taxas de juro. Hoje, o aumento generalizado de preços é uma realidade agravada, entre outros, pelo aumento dos preços da energia. Para travar este aumento, os bancos centrais decidiram aumentar as taxas de juro. No entanto, a taxa de inflação na União Europeia manteve o seu crescimento, tendo-se situado em termos médios, em julho, nos 9,8%. Não obstante de se ter verificado uma descida dos preços da energia, esta, ainda, não produziu qualquer efeito. A este propósito, dois membros do Conselho do BCE admitiram a possibilidade de uma nova subida das taxas de juro, já em setembro, de forma a conter os níveis de inflação. No que concerne à confiança dos consumidores, na área do euro, registou, em julho, o valor mais baixo de sempre e o indicador de sentimento económico da área do euro apresentou um decréscimo maior que o verificado no trimestre anterior. Constata-se, ainda, uma perda de confiança em todos os setores de atividade.

Não obstante da evolução favorável do conjunto dos indicadores publicados, a recuperação só estará concluída com a normalização das dívidas públicas. Ora a conjuntura é complexa. Se por um lado, a inflação permite que os Estados arrecadem maiores receitas fiscais, por outro têm um efeito negativo no poder de compra das famílias, levando os governos a avançar com programas de ajuda às mesmas. Para além disso, a par de um contexto internacional onde as tensões permanecem, teme-se que o inverno traga problemas acrescidos decorrentes da crise energética. No caso da área do euro, esta crise é agravada pela perda de valor do euro face ao dólar que decorre da política monetária dos bancos centrais.

O cenário é complexo e de enorme incerteza. Resta saber se as instituições europeias e os governos nacionais serão capazes de elaborar e, sobretudo, implementar políticas capazes de superar os desafios vindouros e de restabelecer os níveis de confiança dos agentes económicos.