O arcebispo de Canterbury, Rowan Williams, visitou o Zimbabué anteontem e entregou esse mesmo documento ao presidente Robert Mugabe, detalhando os incidentes de intimidação.
A Igreja está dividida naquele país desde 2007, ano em que um bispo pró-Mugabe foi excomungado por incitar à violência nos seus sermões.
Os seguidores de Nolbert Kunonga lutam pela manutenção do seu estatuto como líder legítimo da Igreja, e ocuparam a principal catedral do país, hospitais, bem como se apropriaram das contas bancárias da igreja e de cerca de 55 escolas, com a ajuda de polícias leais a Mugabe.
«Em Harare, a polícia tem perturbado a ida de anglicanos à igreja e utiliza gás lacrimogéneo e bastões para conduzir as pessoas para fora dos edifícios», lê-se no documento: «Como consequência, a maioria das igrejas estão vazias ao domingo, salvo um punhado de sítios que seguidores de Kunonga e suas famílias ocupam».
Sacerdotes e diáconos são presos todas as semanas sem acusação formal, muitas vezes às sextas-feiras, permitindo que a polícia os mantenha presos todo o fim-de-semana.
Os bispos anglicanos no Zimbábue têm recebido ameaças de morte por telefone, pessoalmente e sob a mira de armas.
Já em Fevereiro, uma paroquiana que se recusou a participar na igreja de Kunonga foi encontrada morta.
«Há fortes indícios de que foi assassinada porque pertencia à diocese de Harare. Recebeu ameaças dias antes da sua morte, porque sempre se recusou a juntar-se à Igreja de Kunonga», relata o documento.
Williams disse aos jornalistas, à saída do encontro com Mugabe, que o presidente lhe disse que não conhecia a intimidação que os anglicanos tradicionais sofriam.
Kunonga negou as acusações e não atende o telefone para prestar quaisquer declarações.
O Supremo Tribunal do Zimbabué decidiu em Agosto que Kunonga poderia manter o controlo das propriedades anglicanas até que o recurso interposto pela Igreja Anglicana fosse dado como concluído. Esta decisão foi tomada pelo juíz Godfrey Chidyausiku que, tal como Kunonga, é um defensor assumido do partido de Mugabe.
Na sua visita ao Zimbabué, Williams disse estar solidário com os anglicanos que «sofrem graves perseguições às mãos da polícia».
O relatório que Williams apresentou a Mugabe compila por região os bispos anglicanos e descreve aquilo que considera ser uma «litania de abusos».
Aos anglicanos está a ser negado o direito à educação e a serviços de saúde em hospitais da igreja, ocupados por pessoas leais a Kunonga, que estão sob instruções para não aceitar medicamentos e equipamentos doados por organizações humanitárias. Isto tem comprometido os bons cuidados de saúde, especialmente em áreas propícias à malária.
«Perderam-se vidas que podiam ter sido salvas», conclui o relatório.
AP/SOL