Chamada do PSD ‘não foi método correcto mas tinha objectivo positivo’

O presidente da Associação Portuguesa de Medicina de Emergência (APME) considerou esta quinta-feira que a chamada para o 112 feita por deputados do PSD foi uma decisão infeliz, mas com um objectivo muito positivo.

Vítor Almeida afirma-se satisfeito por saber que afinal o telefonema feito pelo PSD para o 112, para testar o tempo de espera, não foi uma chamada falsa, admite que o propósito era «positivo», mas «a forma não foi a mais correcta».

«É indiscutível que a deputada avançou para esta forma de confirmar ou clarificar o tempo de espera do INEM por boa fé, não tenho dúvidas disso, não imagino que tivesse vontade de prejudicar alguém», explica o técnico de emergência médica.

Compreende até que, com aquela chamada, os deputados do PSD, procuravam «demonstrar ao presidente do INEM que tinham alguns motivos de discordância quanto aos factos que apresentou no parlamento» e admite que há razões para isso.

«É indiscutível que continuam a existir graves atrasos no atendimento das chamadas, por um lado nas centrais da PSP, no 112, e depois no encaminhamento» para o INEM, admite Vítor Almeida, clarificando que «esta chamada de atenção é real, é verdadeira e os profissionais continuam a verificá-lo no dia-a-dia».

Havia, no entender daquele responsável, outras formas de aferir os tempos de espera: «Os deputados podiam criar uma comissão de inquérito, podiam visitar as centrais de emergência, estar presentes um dia inteiro, verificando as dificuldades que os profissionais sentem na pele».

Sobre a iniciativa da chamada para o 112, Vítor Almeida, – que num primeiro momento achou que tinha sido mesmo uma chamada falsa – prefere não crucificar a jovem deputada, frisando que «não se pode exigir a um deputado jovem, que nem é especialista na matéria, que tenha conhecimento pormenorizado dos factos», mas, repete, «fazer uma chamada, não foi a metodologia correcta».

No fundo, explica, aquela chamada «não tem qualquer validade científica. Para aferir a realidade teria de fazer centenas de chamadas».

Em relação ao prejuízo que aquela chamada possa ter tido na operacionalidade do sistema, o médico desvaloriza: «Uma chamada que não chegou a ser atendida não tem peso no sistema, não tem consequências nenhumas, para ninguém. Não toma tempo ao operador».

Desta polémica de verão, o presidente da APME retira o seu lado positivo, que se clarificou que o 112 «é exclusivamente para ser utilizado para situações que coloquem em risco a vida das pessoas» e que «os deputados estão preocupados com o INEM».

O grupo Parlamentar do PSD negou hoje, em comunicado, ter feito uma chamada falsa para o 112, reconhecendo que foi feito um telefonema para testar o tempo de espera, mas que não chegou a ocupar qualquer operador.

A questão gerou desentendimento e polémica durante a audição do presidente do instituto na Comissão de Saúde, na quarta-feira, quando a deputada do PSD Joana Barata Lopes afirmou ter sido testado o tempo de atendimento das chamadas do INEM através de uma chamada para o 112, o que levou a deputada socialista Luísa Salgueiro a condenar o grupo parlamentar do PSD por ter feito uma chamada falsa, salientando que se trata de um ilícito.

O número de chamadas para o INEM aumentou 5,2 por cento no primeiro semestre de 2011, comparativamente ao período homólogo de 2010, enquanto as chamadas desligadas antes de serem atendidas baixaram 17,5 por cento, anunciou quarta-feira na comissão parlamentar de Saúde o presidente do instituto.

Lusa/SOL