CPLP. Abram as portas mas controlem as entradas

Sempre que piso o solo desses países quase que me sinto em casa.

Aquando das minhas deambulações por Angola e Moçambique, há cerca de dez anos, cheguei a ter dois passaportes devido às burocracias existentes na CPLP. A razão especial para me terem sido concedidos dois passaportes é que como um ficava retido quase um mês num dos consulados ou embaixadas desses países, tornava-se impossível programar viagens de seguida. Se queria ir a Angola no princípio de janeiro, por exemplo, e no fim desse mês seguir viagem para Moçambique, tornava-se impossível, pois com o passaporte retido não podia pedir o visto para o segundo país. Achava a burocracia inconcebível e diziam-me que era por causa da reciprocidade.

Na altura, para ir a Angola tinha de apresentar o saldo bancário bem como o extrato detalhado da conta. Além do registo criminal e do boletim das vacinas.

Parece que agora tudo será diferente por causa do acordo de mobilidade assinado pelos países da CPLP. A qualquer cidadão desses países basta solicitar o visto e o mesmo é concedido automaticamente, desde que o seu nome não esteja na lista negra do espaço Schengen. Como é óbvio, e tirando a Guiné Equatorial, há laços fortes entre todos os países. Muitos portugueses vivem ou têm negócios nesses países e o mesmo se passa em sentido contrário. Amadora e Odivelas são bem o exemplo disso. O que acho preocupante é que se abram as portas sem se saber quem estamos a convidar. Pelo que tenho lido na imprensa brasileira, deverão ser largos milhares os cidadãos que hão de vir para Portugal. Uns desencantados com a situação política e com a violência, outros para poderem estender os tentáculos dos seus negócios mafiosos. E aqui falo, obviamente, das redes de prostituição, droga e armas. Como é que as autoridades portuguesas vão controlar os gangs desse e de outros países?

Para que não fiquem dúvidas nas cabeças das redes sociais, reafirmo que o fim da burocracia é excelente e que podemos estar a contribuir para o reforçar dos laços entre aqueles que têm em comum a língua portuguesa e toda uma história, para o bem ou para o mal, de séculos. Quando piso o solo desses países sinto-me quase em casa e nada tem a ver com o colonialismo. Falamos a mesma língua e temos muito em comum. E não estou a falar, como facilmente se perceberá, da Guiné Equatorial. Quem quer vir para trabalhar ou viver dos seus rendimentos, ótimo. O problema são as máfias que vão aproveitar este abrir de portas. Como é sabido, esta lei da mobilidade só existe por causa da mão-de-obra e da baixa natalidade.

Esperemos que esses dois fatores não contribuam para transformar Portugal num país mais violento, fazendo até com que aqueles que fogem dos seus países por causa da violência se venham aqui a confrontar-se com esse dilema. Só uma imigração controlada permitirá um bom casamento para todos. Ou será que algum dos países da CPLP irá ficar contente se os mafiosos portugueses expandirem os seus negócios para as suas nações?

 

P.S. – Portugal é um país de emigrantes e seria completamente estúpido estar contra a imigração. Mas as boas intenções podem contribuir para enriquecer ainda mais as máfias. Veja-se o que se passa com os trabalhadores das estufas do Alentejo ou os ‘apanhadores’ de ameijoas no rio Tejo, muitos deles nas mãos de redes criminosas. E ninguém se questiona, por exemplo, como é possível viverem cerca de mil pessoas num prédio de quatro andares na zona da Praça do Chile? Por que será?