Degelo ameaça pinguins, mas outras espécies sobrevivem

Várias espécies de pinguins na Antárctida estão ameaçadas pelo degelo, consequência do aquecimento global, mas há outras, que por estarem habituadas a águas mais quentes, vão sobreviver, disse hoje, em Coimbra, um cientista polar.

“se os pinguins vão desaparecer, depende da espécie de que estamos a falar. como o derreter do gelo está a ser maior, a espécie dos pinguins-imperadores tem estado a declinar, é uma das espécies afectadas, quer pelo gelo, quer por haver menos comida”, disse à agência lusa josé xavier, biólogo marinho e elemento de missões científicas portuguesas à antárctida.

outras espécies de pinguins, como o pinguim-gentil, “estão estáveis e até estão a aumentar” por estarem habituadas a águas relativamente mais quentes: “como o planeta está a aquecer e a península antárctida está a aquecer, eles estão a distribuir-se cada vez mais para sul”, explicou.

já no caso dos ursos polares, estudos “muito recentes” demonstram que o seu habitat no oceano árctico “está a sofrer grandes mudanças”, devido ao degelo.

“o árctico não é um continente, é um oceano congelado e como o gelo está a derreter muito mais e a diminuir, os ursos polares têm de fazer viagens cada vez maiores à procura de comida, viagens de 450 quilómetros em dez dias à procura de focas”, ilustrou.

dado que os ursos polares são animais terrestres e alimentam-se em terra “precisam é de gelo e com menos gelo o impacto na espécie vai ser mais evidente no futuro”, observou.

o instituto de investigação marítima da universidade de coimbra (uc) promove, até quinta-feira, no museu da ciência, a conferência internacional “a educação encontra a ciência – trazer a ciência polar para as salas de aula”, que reúne cerca de 40 especialistas em ciência polar – cientistas, investigadores universitários e professores de vários graus de ensino – oriundos de uma dezena de países, muitos dos quais trabalham nas regiões polares.

na ida de jovens cientistas da uc a uma escola da zona de febres, cantanhede, josé xavier foi confrontado com uma criança, numa das sessões de divulgação de ciência, que, contou, “ficou tão curioso” que numa das abordagens ao investigador perguntou-lhe se ele queria jogar à bola.

“este miúdo, sem querer, deu-nos um exemplo de coragem e do impacto que temos nas escolas. fui jogar e foi um prazer enorme. o marco é um caso excelente que demonstra a paixão e a necessidade de querer saber mais, de querer interagir e perceber que os cientistas são pessoas normais. quis jogar à bola com o cientista e isso são coisas que temos de fazer, inspirar as novas gerações”, alegou josé xavier.

hoje, numa das sessões da conferência, uma bola de futebol com as cores nacionais circulou por entre os cientistas participantes, que a assinaram, e terá como destino marco, a criança da escola de febres.

lusa/sol