(Des)Igualdades

A recente decisão do Tribunal Constitucional de declarar a inconstitucionalidade dos cortes na função pública, por violar o princípio da igualdade, vem levantar novas dúvidas sobre se Portugal será capaz de respeitar os acordos internacionais em termos de défice.

Independentemente da seriedade deste problema, também vem suscitar discussão em termos do que devemos considerar o ‘princípio da igualdade’.

A Função Pública tem, desde sempre, vivido numa redoma protegida em termos de legislação do trabalho. O princípio das 35 horas de duração de trabalho semanal, o direito a horas extraordinárias, a promoção com base na antiguidade, e não no mérito, são apenas alguns exemplos de práticas que não respeitam o ‘princípio da igualdade’ entre sectores privado e público, na medida em que nenhuma destas é prática exigível no sector privado. Assim sendo, suscita a questão de quando é que este princípio é passível de ser elegido como norma suprema. Todos nós conhecemos funcionários do sector público e, com algumas excepções, temos noção de que a carga horária e compromisso dos mesmos diferem, significativamente, do sector privado. Esta diferença é, na generalidade, originada por uma outra violação do ‘princípio da igualdade’: a dificuldade de despedimentos na Função Pública.

Os empregos ‘garantidos para a vida’ têm efeitos nefastos ao nível da performance, produtividade, empenho e qualidade da prestação dos trabalhadores. E quando estes trabalhadores são responsáveis por manter a máquina burocrática a funcionar, têm o efeito de contaminação para toda a economia.

Assim sendo, urge que sejam tomadas medidas que, efectivamente, salvaguardem o princípio da igualdade entre cidadãos e que venham a contribuir para um melhor desempenho da economia portuguesa. A decisão dos cortes de subsídios à Função Pública é uma medida tomada com vista à redução da despesa pública. O alargamento desta medida para todos os trabalhadores terá que vir pela forma de imposto (extraordinário ou não), originando um aumento de receita. Apesar do resultado líquido poder ser considerado semelhante, o equilíbrio alcançado em termos de contas públicas não o será.

O problema fulcral da economia não é só o Estado ter incorrido em gastos excessivos no passado, mas sim o facto de o Estado, apesar de todos os esforços, continuar a gastar mais do que o sistema contributivo actual é capaz de gerar. Assim sendo, tal e qual como na generalidade das organizações privadas, deve o Estado implementar todo um conjunto de medidas que lhe permitam sobreviver com uma estrutura mais magra. O conceito de ‘lean organizations’ há muito que é entendido no sector privado como uma prática fundamental para maximizar o valor. São organizações que estão centradas no consumidor, com forte compromisso para melhorias contínuas, com uma estrutura eficiente que reduz desperdícios e com enfoque na excelência de serviços. Só quando o Estado implementar medidas que o tornem mais ‘magro’ é que estaremos verdadeiramente a respeitar o ‘princípio da igualdade’.

* Docente, Católica Lisbon-School of Business & Economics