Doente avaliada como caso suspeito ficou sem fazer teste. “Tem havido centenas de falhas”, denuncia SIM

“Tem havido centenas de falhas na Linha de Apoio ao Médico”.  

A Organização Mundial de Saúde apelou esta segunda-feira para que os países testem todos os casos suspeitos e a ministra da Saúde sublinhou que estão a ser feitos esforços nesse sentido. Mantêm-se, no entanto, dificuldades.

Um caso foi relatado ontem ao i por um casal sexagenário de Lisboa. A mulher começou a ter tosse e febre há cerca de um mês. No início desvalorizou, mas procurou na semana passada um hospital privado, onde lhe foi prescrito um antibiótico. Mantendo-se o quadro e uma vez que o filho viaja regularmente para Itália em trabalho, contactaram o SNS24. “Esteve uma hora para ser atendida e depois passaram para a Linha de Apoio ao Médico, onde esperámos mais uma hora. Finalmente fomos atendidos pelo médico que disse que dariam resposta. 24 horas depois recebemos a indicação de que devíamos ir ao Santa Maria ou ao Egas Moniz fazer o teste. Passados 15 minutos, ligam-nos a dizer para não irmos, uma vez que não tinha falta de ar, por isso deveria apenas permanecer em isolamento e terminar o antibiótico”. Instalada a dúvida, tentaram marcar a análise num laboratório privado. Na clínica Germano de Sousa é pedida prescrição, o que não têm. No laboratório Joaquim Chaves, a chamada demorou uma hora a ser atendida só para as primeiras informações. No final da semana passada, estavam a fazer marcações para o final do mês.

Demora na reposta e diferentes orientações da Linha de Apoio ao Médico, à qual tem cabido a validação de casos suspeitos de Covid-19 para análise, têm sido denunciadas pelos médicos ao longo das últimas semanas. Jorge Roque da Cunha, scretário-geral do Sindicato Independente dos Médicos, diz que houve centenas de falhas na resposta da LAM durrante o período de contenção da epidemia e admite que terão existido mais casos possivelmente suspeitos que não chegaram  a fazer a análise. “Nesse caso que relata a pessoa foi atendida, noutros não chegaram a ser. Tenho dois doentes meus à espera de uma resposta da Linha de Apoio ao Médico há 24 horas”, disse ao i.

Na semana passada o SIM já tinhada apelado a que a LAM deixasse de ser a autoridade máxima na validação de casos, alertando que cada hora que se perde e relação a um infectado são dezenas de potenciais infectados a mais. “É incompreensível que a estratégia para a resposta a esta epidemia dependa de uma linha. É urgente que o combate passe a estar na mão dos médicos, internistas, infeciologistas e médicos de saúde pública e que não se perca tempo na resposta”, disse ao i Roque da Cunha.

Ricardo Mexia, presidente da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública, admitiu ao i que tem havido relatos idênticos devido ao estrangulamento da capacidade de resposta das linhas de apoio. A expectativa era ontem que, com a entrada do país na primeira fase de resposta de mitigação, a validação de casos suspeitos deixasse de estar dependente da LAM e passasse a ser gerida localmente nos hospitais e locais de triagem.