Drones ameaçam segurança das prisões

Em Inglaterra levam droga, telemóveis e cartões USB para dentro das prisões. Em Portugal não há casos desses mas têm sido avistados a recolher imagens dos estabelecimentos prisionais

Se cada vez há mais empresas a apostar no aperfeiçoamento de drones para entregar encomendas, nas prisões o futuro parece já ter chegado e não foi preciso grande inovação. O uso de drones amadores no contrabando de droga e dispositivos proibidos para dentro de estabelecimentos prisionais está a causar preocupação no Reino Unido e nos Estados Unidos também já houve relatos de entrega de tabaco e marijuana ao “domicílio”, no centro de reabilitação e correção de Ohio. Este mês a polícia metropolitana de Londres apanhou mais um esquema em flagrante: no domingo, 14 de Agosto, graças aos “olhos de águia” dos agentes de Islington, nos subúrbios da capital, foi possível confiscar duas aeronaves que levavam uma “quantidade substancial” de estupefacientes e telemóveis para a prisão de Pentoville. 

Em Portugal, não há relatos desta nova forma de contrabando mas Jorge Alves, do Sindicato Nacional do Corpo da Guarda Prisional, admite que já têm sido avistados drones nas imediações de algumas prisões. “Pensamos que será para recolher imagens, por curiosidade, mas não existem diretivas para lidar com este tipo de situação”, alerta o dirigente sindical.

Só no ano passado houve 33 incidentes do género em Inglaterra, quando em 2014 esta era uma realidade praticamente inexistente – só tinham sido detetados dois casos. Além de drogas e telefones, já foram confiscados cartões USB de pacotes engenhosamente colocados nas aeronaves controladas à distância.

Jorge Alves admite que a situação reportada lá fora gera preocupação mas ainda não foi abordada formalmente junto dos guardas prisionais pela respetiva hierarquia. “Da mesma forma que transportam estupefacientes e outros dispositivos, o risco é poderem de alguma forma introduzir armamento dentro das prisões”, sublinha.

Na última legislatura, o sindicato chegou a alertar o ministério da Justiça para o facto de considerar que o aumento de reclusos jovens nas prisões pode contribuir para novas tendências que se têm verificado nos últimos anos, às quais poderá vir a juntar-se de futuro o problema dos drones. Por um lado, aumentou o número de apreensões de haxixe e cocaína, ligadas a consumidores mais novos, enquanto diminuiu o número de apreensões de heroína. Por outro, são cada vez apanhados mais telemóveis dentro das prisões. Os dados dos últimos relatórios anuais de segurança interna dão conta disso mesmo: em 2010 foram apreendidos 1003 telemóveis nos estabelecimentos prisionais e, desde então, o número tem aumentado todos os anos. No ano passado foi confiscado um recorde de 1756 aparelhos, um aumento de 75% em cinco anos. Dá cinco telefones por dia. O número de armas brancas apreendidas tem-se mantido estável, ainda que com algumas oscilações. No ano passado foram apreendidas 52.

Jorge Alves fala de uma mudança de dinâmica dentro das prisões, com menos acompanhamento dos reclusos mais jovens por indivíduos mais velhos que os dissuadam de comportamentos problemáticos. “São realidades novas para as quais não tem havido particular atenção e que indiciam que deveria haver uma maior preocupação de atualização por parte da Direção Geral de Reinserção e Serviços Prisionais”, defende o dirigente sindical.

Visitas e bolas de ténis com droga Ainda sem indícios das visitas indesejadas de robôs, em Portugal têm vindo a manter-se os métodos tradicionais de contrabando em meio prisional. A droga e os objetos proibidos chegam aos reclusos através de visitas e, por vezes, de funcionários, explica Jorge Alves. Verifica-se também a entrada de “encomendas” através do arremesso de pacotes para dentro dos estabelecimentos. “Sabem as zonas certas para atirar de forma a que calhe na pessoa correta”, diz o dirigente sindical.

Outro modus operandi consiste em atirar pacotes e, por vezes, bolas de ténis com droga no interior para os telhado, para serem recolhidos por reclusos de serviço à limpeza. O ponto em comum é que está tudo programado ao pormenor.

O facto de nem todos os estabelecimentos prisionais disporem de um sistema de videovigilância no exterior, e de na maioria das vezes as câmaras estarem direcionadas para dentro dos recintos, contribui para o fenómeno, defende o dirigente sindical, admitindo ser necessário um reforço dos mecanismos de segurança nas prisões para segurança dos reclusos e dos guardas.

A Direção Geral de Reinserção e Serviços Prisionais confirma que por agora, em Portugal, “não se registou qualquer ocorrência envolvendo drones para transporte de bens ou produtos ilícitos para o interior de estabelecimentos prisionais”. O organismo que tutela as prisões não adianta contudo se existe algum alerta particular nesse sentido.