Eurocépticos em alta

De Lisboa a Helsínquia, de Dublin a Bucareste, é de esperar que em cada uma das 28 capitais da União Europeia, entre 22 e 25 de Maio, se conclua que as eleições ao Parlamento Europeu resultaram numa subida da abstenção e no voto dos partidos críticos de Bruxelas.

o fenómeno não é novo: de norte a sul, franjas do eleitorado votam contra a imigração, o desemprego ou a burocracia de bruxelas, mas desta vez o voto de protesto deverá ganhar maior dimensão, uma vez que se junta a presença da troika e o empobrecimento dos países do sul e a irritação dos povos do norte em contribuir para os resgates dos países falidos.

a excepção poderá ser a grécia, uma vez que o partido neonazi aurora dourada corre o risco de ser entretanto proibido (pelo menos terá o financiamento suspenso). no entanto, os eleitores têm como opções o populismo de esquerda da syriza (que ficou a 3% de ganhar as legislativas de 2012) ou de direita dos gregos independentes.

em espanha, o movimento dos indignados, 15m, prometeu ir às urnas. as tensões na catalunha antevêem um voto em massa nos partidos nacionalistas catalães. em itália, o movimento 5 estrelas de beppe grillo aposta tudo nas europeias – há uns meses o comediante sonhava em fazer uma frente comum a nível europeu. “não podemos pensar que fizemos isto tudo para pararmos em roma. o nosso objectivo é o parlamento europeu”, declarou o líder do partido anti-sistema.

o drama de lampedusa também fará parte da campanha italiana, mas não é claro quem poderá tirar dividendos da actual política europeia de imigração e da incapacidade em suster as vagas migratórias.

a sondagem que assusta

frança é o caso mais notório: na mais recente sondagem, da revista nouvel observateur, a frente nacional (fn) lidera com 24% das intenções de voto para as eleições de 2014, relegando o ps do presidente hollande para terceiro lugar. um feito inédito, que comprova o sucesso da estratégia recente do partido de marine le pen e que “assusta”, como a revista fazia manchete, o restante espectro político.

no princípio do mês, a líder ameaçou processar quem diga que a fn é de extrema-direita – claro que jornais como o le monde não se coibiram de reiterar que a agenda do partido confirma tratar-se de uma formação extremista e contrária aos princípios republicanos. mais exaltado, o deputado socialista thierry mandon rotulou a fn de “partido nacional fascista”. a realidade é que os temas preferidos acabaram de alguma forma por ser incorporados pelos governos gauleses – segurança e imigração. em relação a este último dossiê, o ministro mais popular (ou menos impopular), manuel valls, tem prosseguido a política de expulsão dos ciganos provenientes do leste europeu. na semana passada, contudo, ao recambiar para o kosovo uma estudante de 15 anos, leonarda dibrani, há nove anos fora do território onde nasceu, fez-se ouvir um coro de protestos.

do outro lado da mancha, o partido anti-europeu ukip não só condiciona o governo e o discurso dos conservadores britânicos, mas de quase toda a sociedade; os trabalhistas mantêm um silêncio comprometedor e só os liberais-democratas continuam a bater-se pela união europeia. a formação liderada por nigel farage – o homem que comparou o carisma de rompuy a uma esfregona – atinge 20% das intenções de voto nas eleições europeias.

no centro e norte europeus, outros partidos poderão apresentar avultados lucros com a incapacidade dos partidos do establishment em lidarem com a crise dos últimos anos e em darem novo impulso ao projecto europeu. são os casos do partido da liberdade holandês de geert wilders, o partido liberal (fpö) e o movimento de frank stronach na áustria, os verdadeiros finlandeses, os democratas suecos ou o partido do povo dinamarquês. a estes partidos poderá juntar-se a nova formação alternativa para a alemanha, que defende o fim do euro.

perante este cenário, a vice-presidente do parlamento europeu anni podimata (do pasok), alertou, ao le monde: “o projecto europeu está perante um enorme risco. o sentimento antieuropeísta está a agravar-se muito. isto devia incitar os partidos a assumirem a sua mensagem europeia”.

cesar.avo@sol.pt