Évora

Antes do Natal, para darmos continuidade ao nosso projecto de conhecer melhor o Alentejo – e, ao mesmo tempo, para fugir à monotonia do Inverno na costa alentejana e ao destino do costume, que é Lisboa -, fomos para o interior. Ainda não foi desta que voltei ao Alqueva, que só conheço dos tempos em…

Evitámos a auto-estrada e seguimos pela nacional. Com bom tempo, pode ser um passeio bonito. Num dia de nevoeiro, é sobretudo bom ter companhia: a conversa flui agradavelmente, enquanto agradecemos o facto de podermos 'perder tempo' com estes pequenos momentos. E constatamos que o Inverno frio e cinzento pode ser tão bom para deambulações como as temperaturas confortáveis do Verão.

A entrada de Évora assusta um bocadinho: rotundas, placards com publicidade a stands de carros e muita sinalização. Só quando avistei a muralha (e, por uma das entradas, a parede de uma casa de pedra antiga) é que fiquei mais descansada. A última coisa que me apetecia era uma cidade antiga e histórica armada em moderna, com construções selvagens e muita poluição visual.

Évora é uma daquelas cidades de tamanho médio que tanta falta fazem num país pequeno em que tudo o que fica de fora das modas é esquecido.

Como o dia estava frio e nevoento, a única maneira de aquecermos era a andar ou dentro de portas. E, como já tínhamos saído de casa quase em cima da hora do almoço, não houve outro remédio senão enfiarmo-nos no primeiro restaurante que nos apareceu à frente. Porque era uma visita de conhecimento e reconhecimento, optámos por sabores tradicionais. Infelizmente sou incapaz de me lembrar do nome do restaurante.

Depois do almoço, saciados e reconfortados, a minha pequena grande descoberta foi uma livraria pequenina, que além de ter café tem uma enorme variedade de chás e compotas. Claro que, para quem lá vive, deve ser absolutamente normal, até por causa da universidade. Mas para mim, cujo avistamento de uma livraria é um momento raro, foi quase como encontrar um oásis no deserto.

A seguir, evitámos a Capela dos Ossos (por ser uma escolha demasiado óbvia e porque já a conhecíamos) e seguimos para ver a vida urbana.

Do que mais gosto, quando visito uma cidade que não conheço ou conheço mal, é de observar a vida na rua: as pessoas, o movimento, o comércio, as casas, a arquitectura, os espaços culturais, os mercados e as feiras. E, ainda, se existem árvores ou flores nas ruas, se há muito trânsito, em que estado estão as casas, como é que as pessoas se deslocam.

Ora, Évora tem quase tudo: a arquitectura própria de uma cidade com muita história, muita cultura, muitos turistas (e talvez turismo de habitação em demasia), muitas lojas e, para meu deleite, muitos cestos e barros, à mistura com outro artesanato mais moderno.

Como esteve sempre muito frio, entrámos em vários cafés e bares para nos aquecermos com chá ou café – e há qualquer coisa de reconfortante em ver tantos estudantes.

Ao fim da tarde já estávamos a pensar como seria a nossa vida nesta cidade. O encanto da vida citadina – e, ao mesmo tempo, o conforto de ter todas as necessidades do quotidiano a uma distância razoável, e a liberdade de não termos de ir na rua a acenar constantemente às pessoas, porque não é possível conhecermos toda a gente. Para mim, havia de faltar a proximidade da praia. Mas talvez, nem sempre, seja possível ter tudo.