Incentivar a cidadania ativa como reforço da legitimidade política

Para que os cidadãos se sintam parte integrante do processo de tomada de decisão, torna-se necessário criar mecanismos de proximidade.

por Ana Paula Martins
Presidente da Câmara Municipal de Tavira

Acreditar e construir um mundo melhor é um desafio para cada cidadão que defende que a cidadania ativa é um caminho que se constrói diariamente no reforço da legitimidade política.

O desafio é de todos/as e para todos/as, e de uma forma mais direta para quem governa, para quem todos os dias tem de tomar decisões responsáveis e representativas das expectativas das suas gentes, correspondendo à legitimidade política que lhe foi consignada.

Por considerarem que os eleitos e aqueles que se candidatam não escutam os seus interesses e não direcionam respostas às suas necessidades, salvo nos períodos de campanha eleitoral, há, por parte dos cidadãos, uma perda progressiva de confiança.

Essa insegurança gera desinteresse e promove a falta de participação. Consequentemente, os eleitos perdem a força da legitimação popular, criando um hiato entre as decisões tomadas pelos representantes e as reais expectativas dos representados.

Neste contexto, a proximidade é uma ferramenta que responde à regeneração da democracia. Acredito que a sua escassez tem vindo a contribuir para a desconfiança nas instituições e a adesão a discursos populistas que enganam a população e criam dicotomias extremas entre os ‘moralmente bons’ e os ‘imorais e corruptos’.

Como eleita local, quero trabalhar para decisões reais, com respostas materialmente certas e atuar sobre necessidades verdadeiras. Sei que temos que criar mais e melhores espaços formais e informais que promovam essa proximidade.

Para que os cidadãos se sintam parte integrante do processo de tomada de decisão, torna-se necessário criar mecanismos de proximidade. Prática exemplar é o orçamento participativo. Mas por si só não é suficiente. As tradicionais consultas públicas e outros mecanismos de auscultação, desde sessões temáticas de diálogo entre decisores e a população ou sessões participativas sobre projetos em desenvolvimento, devem ser considerados essenciais e verdadeiros espaços de diálogo permanente.

Temos que treinar a nossa capacidade de escutar e de melhor comunicar para evitar que as pessoas se demitam do exercício da cidadania, criando um efetivo diálogo.

Podemos fazer uma diferença nacional ou global quando atuamos localmente. Daí, a necessidade de irmos ao encontro da população com iniciativas tais como as Presidências Abertas, percorrendo o território e ouvindo a população, no meu caso, do concelho. É uma oportunidade que valorizo, não impedindo que outras e novas formas de participação e proximidade sejam desenvolvidas.

No fundo, importa trabalhar a educação para a cidadania e escuta ativa, para que tenhamos pessoas que valorizem participar na vida política, reduzindo o número daqueles que afirmam odiar a política, por desconhecimento ou, porque somente deixaram de acreditar. Passemos a tomar decisões com base nos legítimos anseios e necessidades manifestados da população, abrindo canais de participação e diálogo.