Justice Initiative: Uma luta que começou há demasiado tempo

Se olharmos para o lado, existem muitas pessoas que foram vítimas de abuso sexual na infância escondidas pelo silêncio.

O princípio para mim, começou em Portugal, com as equipas do IAC. Quando me envolvi no Projecto Justice Initiative, já o IAC trabalhava com equipas de forma dura no terreno. A sua linha para denúncia de abusos sexuais existe desde 2004 e em 2007 passou a operar o único número europeu. Significa isto que o 116000, existe em todos os Estados da União Europeia. Em Portugal é o IAC que o tem. O SOS Criança é a mais antiga linha telefónica da União Europeia. Cerca de quase quinze anos de trabalho depois surgiu a petição da Justice Initiative onde tive apenas que recolher 135 mil assinaturas num país de 10 milhões de habitantes. Com a ajuda de mais de setenta artistas, ideias e motivações. O direito e a proteção das crianças, a não serem exploradas como objecto de uso sexual foi a minha maior motivação. Crianças que ainda nem completaram um ano de vida e são alvos predatórios de mentes onde a perversão não tem limites. Neste caso o papel de fazermos mais e melhor também não. 

Se olharmos para o lado, existem muitas pessoas que foram vítimas de abuso sexual na infância escondidas pelo silêncio. Marcadas em demasia. Onde apenas o que as expõe desse mesmo acontecimento são as proteções que foram arranjando para continuar a viver, que ao conviverem com outras, vão caindo e caindo, sucumbindo, para depois se reerguerem! 

Todos os esforços se unem, da nossa parte desde as equipa do IAC a inspectores da polícia judiciária, em Bruxelas foi em representação o seu mentor: o Guido e a Tania Fluri, Dulce Rocha, Antonio Grosso, Marco, Filipa, Irene, Scharlina, Comissária Ylva Johansson em papéis tão diferentes fazemos parte da mesma luta: apertar com as empresas de tecnologia de forma a não permitir que circulem vídeos e imagens de abuso sexual de crianças de forma indiscriminada pelas mesmas. A internet não pode ser um mar aberto para os predadores sexuais! Não pode! Não é o direito a uma suposta “privacidade” que deixa de ser ou não o que nos define como democracia, mas sim a permissão destes abusos de forma descontrolada,  não supervisionada e sem qualquer regulamentação! Fechar esta caixa de Pandora é abrir a porta para todos os abusadores sexuais, para que mantenham as suas práticas, para que de Bruxelas a Lisboa, Madrid, Paris, a todas as capitais europeias se propaguem, com uma câmara de telemóvel, as partilhas infindáveis do abuso sexual de menores pelos meios tecnológicos e do seu armazenamento. A nossa humanidade, uma vez desfeita nas crianças abusadas e activistas que se fazem ouvir, tem que dar voz às futuras e por isso entregamos uma petição com meio milhão de assinaturas. A União Europeia deve agir. Tem de agir. Neste preciso minuto, segundo, momento a que escrevo este texto, centenas de crianças estão a ser traficadas, compradas, abusadas e filmadas para depois tudo o que seja preciso fazer seja carregar em “partilhar”, vezes um milhão, até essa criança, deixar de ser criança, bebé, deixar de ser bebé, mas um produto sexual para a satisfação de milhões de abusadores que deviam estar condenados e presos de forma eterna!