Nacionais e populares

É um aviso à navegação: a capa do primeiro número de 2014 do Economist tem por tema e título ‘Europe’s Tea Parties’. Num mar ligeiramente encapelado, a bordo de um pacato bule, Marine Le Pen, Nigel Farage e Geert Wilders, sob bandeiras nacionais e partidárias, navegam contentes e decididos para um porto que os espera.

ela e eles são os líderes dos três partidos – um francês, outro inglês e o terceiro holandês – que esperam resultados vitoriosos nas eleições para o parlamento europeu do próximo mês de maio. isto segundo as expectativas das sondagens e os comentários, mais ou menos alarmados e alarmantes, dos institutos de opinião e think-tanks do ‘centro respeitável’.

são partidos oriundos de nações e culturas políticas diferentes e a insistência no enraizamento nacional não pode deixar de reflectir-se, coerentemente, em diferenças. mas neste momento têm pontos em comum: são nacionalistas – reivindicam o primado da nação como comunidade política principal – são, consequentemente, eurocépticos, senão eurofóbicos; combatem um modelo político-social que, segundo eles, privilegia os grupos económicos e financeiros transnacionais e os ‘pobres e assistidos profissionais’ à custa das classes médias produtivas e dos trabalhadores; temem a descaracterização progressiva das sociedades europeias sob o peso de uma imigração maciça de minorias inintegráveis e com uma taxa de natalidade maior do que os locais.

basta olhar a lista dos partidos populistas e eurocépticos de direita na europa para ver que, excluindo uma minoria em que se incluem portugal e espanha, quase todos os países da ue têm formações desta natureza. e que no parlamento europeu eles ocupam cerca de 50 lugares. a possibilidade de aumentarem muito significativamente em maio é real; desde a última eleição europeia até hoje, caiu muito a imagem e as expectativas entre os cidadãos da união europeia. segundo inquéritos de opinião, os 52% que em 2007 tinham uma imagem positiva da europa estão agora reduzidos a 30%.

o que pode aproximar estes partidos do tea party norte-americano é uma certa desconfiança populista em relação às elites políticas, mediáticas e financeiras. mas seria injusto qualificá-los como meros partidos anti-sistema ou tentar demonizá-los colando-lhes velhas e politicamente assustadoras etiquetas. foi esta a táctica seguida mas parece não estar a dar muito resultado.

nenhum destes partidos se afirma antidemocrático, e se nalguns deles, sobretudo da europa central e de leste, se podem encontrar elementos racistas e anti-semitas, e nos do ocidente (nos holandeses e nos franceses) hostilidade ao islão, a verdade é que não é este o ponto principal da sua reivindicação.

esta é, antes, pôr em causa uma construção federal, que progressivamente vem retirando poderes às velhas nações, substituindo as raízes e os símbolos da unidade e identidade dos povos – e os seus direitos à independência e ao autogoverno – por burocracias tecnocráticas, distantes, arrogantes e não especialmente competentes.