Onlyfans. A rede social que tem tornado os jovens milionários

Há uns tempos seria difícil imaginar que uma rede social nos pudesse tornar milionários. No entanto, o OnlyFans já deu mais que provas de que o conteúdo para adultos continua a ser aliciante e que dá muito dinheiro. Se há quem a utilize como um segundo emprego, há quem, graças a ela, passe a vida…

É difícil que alguém ainda não tenha ouvido falar sobre uma rede social em que os criadores de conteúdo ganham dinheiro por publicarem fotografias e outros conteúdos explícitos. As pessoas falam sobre ela, o debate sobre o seu funcionamento é polémico – já que esta não possui regras que restringem o conteúdo, algo que não acontece noutras redes sociais –, há mesmo quem fique milionário depois de criar conta contra a vontade da família, quem a utilize como segundo emprego e até quem acabe por trabalhar nela a tempo inteiro. Ao mesmo tempo, há quem anseie por perceber como esta funciona, já que muitos dos criadores de conteúdo ganham milhares de euros apenas vendendo fotografias dos pés. Recentemente voltámos a ouvir falar sobre ela nas televisões, depois do ator Nuno Pardal, revelar ter criado uma conta onde já partilhou quase 30 fotografias, onde aparece despido, caracterizando-as como «nus artísticos».

 

O funcionamento da plataforma

Falamos de OnlyFans, uma rede social que entrega conteúdos através de um serviço de assinatura. A plataforma foi criada em Londres, no ano de 2016, mas só começou a ganhar força em 2020 – por conta da pandemia da Covid-19. Atualmente, são mais de 230 milhões de usuários e mais 3 milhões de criadores de conteúdo registados.

Existe, por isso, a possibilidade de nos inscrevermos como usuários ou criadores de conteúdos. Como usuário, basta escolher os perfis que se deseja seguir. Já os criadores de conteúdo podem ter duas modalidades de contas: as gratuitas ou as pagas. Nas contas gratuitas, os usuários podem enviar valores para os posts ou vídeos que gostarem, mas não há o compromisso da assinatura. Já as contas pagas funcionam através de uma assinatura mensal que pode variar entre 4,99 dólares (4,65 euros) e 49,99 (46,60 euros). No entanto, segundo o The Guardian, o criador recebe somente 80% desse valor. 20% da quantia é destinada à plataforma, «cobrindo os custos de funcionamento do negócio» criado por Leonid Radvinsky.

De acordo com o jornal britânico, de facto, o «conteúdo adulto» ainda é a categoria que mais circula no OnlyFans. No entanto, é possível produzir conteúdo de outros géneros como viagens, jogos, artes, moda e muito mais. Aliás, no começo, a aplicação ficou conhecida por fazer a ponte entre artistas e os seus fãs. Músicos, atletas, atores, usavam a plataforma para colocarem conteúdos exclusivos sobre a sua vida, para falarem com os seus admiradores e até para darem concertos intimistas, no caso dos músicos.

Por isso, talvez até se possa dizer que a proposta do OnlyFans seja trazer uma ideia de exclusividade criando publicações que não estão/nem podem estar noutras redes sociais como é o caso do Facebook, Instagram e TikTok que possuem várias regras de publicação e partilhas – por norma, conteúdos com nudez, por exemplo, acabam por mandar as contas abaixo.

Os resultados financeiros do OnlyFans relativos ao ano passado indicam que, até ao dia 30 de novembro de 2022, os utilizadores gastaram 5,6 mil milhões de dólares (5,22 mil milhões de euros) na plataforma – montante que diz respeito ao dinheiro que os utilizadores do OnlyFans pagaram por fotografias, vídeos e em conversas com os criadores de conteúdos da plataforma. Este valor representa um aumento de 17% em relação a 2021, ano em que os usuários gastaram 4,8 mil milhões de dólares (4,48 mil milhões de euros).

A rede social tem 3,2 milhões de criadores registados, contra 2,1 milhões no ano anterior. O número de fãs que podem subscrever conteúdos dos seus artistas favoritos e comprar imagens e vídeos adicionais atingiu 239 milhões – acima dos 188 milhões, em 2021.

Recorde-se que em agosto de 2021, a plataforma anunciou que deixaria de permitir material sexualmente explícito a partir de outubro. Para justificar a exclusão do conteúdo sexual, na altura, o CEO da companhia, Tim Stokely, comentou que o culpado pela mudança nos termos do site seria «a pressão dos bancos». Os investidores do mercado financeiro disseram que rejeitariam a sua participação no OnlyFans devido ao «risco à reputação» pelos conteúdos da rede social, o que poderia fazer com que o serviço perdesse as funções de pagamentos. No entanto, no dia 25 do mesmo mês, a empresa anunciou que tudo continuaria como estava, explicando que havia conseguido as garantias necessárias para continuar o suporte aos usuários da plataforma. «Obtivemos as garantias necessárias para apoiar a nossa diversa comunidade de criadores e suspendemos a mudança de política planeada para 1º de outubro», anunciou a empresa no Twitter.

 

Artistas no OnlyFans

A verdade é que esta é uma prática cada vez mais comum tanto dentro como além fronteiras. E os criadores de conteúdo vão de pessoas anónimas às caras mais conhecidas do público. 

Em muitos perfis do Instagram, por exemplo, são cada vez mais as indicações para o nickname do OnlyFans, o que significa que essa pessoa vende conteúdos exclusivos na rede social. Por outro lado, quase todas as semanas, os meios de comunicação internacionais revelam mais um famoso que se tornou criador de conteúdo digital para aquela plataforma. Em Portugal, apesar de ainda não termos assistido a nenhum «boom», como acontece por exemplo nos EUA, são alguns os artistas que utilizam a plataforma.

Nuno Pardal decidiu recentemente aderir à plataforma, onde já partilhou quase 30 fotografias, em que aparece despido, caracterizando-as como «nus artísticos». Para ter acesso às fotografias, o ator pede 9 ou 25 euros por mês. «Foi um desafio. O OnlyFans foi uma aposta de um amigo meu, em que ele acabou por ganhar. Ele dizia que eu ia conseguir fazer algum dinheiro dali. Quando conheci esta aplicação, eu já sabia que ia gravar a novela ‘Cacau’ e estava a trabalhar, por isso nunca foi por causa de dinheiro», revelou o artista de 44 anos ao programa ‘Goucha’, no princípio de agosto. «Eu sempre fui das primeiras pessoas a dizer que o corpo é meu e eu faço aquilo que eu quiser e mostro aquilo que eu quiser da maneira que eu quiser, desde que não ofenda ninguém nem magoe ninguém. Acho que ninguém tem nada a ver com isso», explicou.

Relativamente ao conteúdo que partilha, o ator garantiu que nunca iria publicar algo que fosse considerado mais «pornográfico». «Eu acho que nunca vai ser ordinário, nunca vai ser gratuito, nunca vai ser dessa forma. Eu acho que a nudez é bonita e acho que pode ser feita. Acho que o Instagram não é o sítio para o fazer, mas descobri aqui um sítio para isso», reforçou. «Tal como toda a gente tinha uma ideia de ‘badalhoquice’ em relação a esta aplicação e não é. Tens atores de todo o lado que têm OnlyFans. E acho que se forem ver não veem nada de mal. É apenas umas pernas, um rabo e umas paisagens», confessou Nuno Pardal, acrescentando que «não teve nenhuma consequência negativa». «Acho que vou ser o primeiro de muitos colegas que vão abrir rapidamente uma conta no OnlyFans», referiu.

Dos famosos que, tal como Nuno Pardal, aderiram à rede social da «moda» e com ela ganham milhares de euros, estão a cantora Cardi B, a modelo, atriz e apresentadora americana Amber Rose, o rapper norte-americano Tyga, a atriz de filmes para adultos Mia Khalifa e Bella Thorne, que foi uma das primeiras a criar perfil na plataforma. A atriz norte-americana é atualmente a mais bem paga do OnlyFans, e chega a ganhar 11 milhões de dólares por mês (10,26 milhões de euros). Bella abriu a sua conta em 2019, e foi também a primeira a superar a receita de 1 milhão de dólares em apenas 24 horas.

Milhares pelos pés

Mas desengane-se quem julga que é necessário ser famoso para vingar no mundo de OnlyFans. Em junho, a influenciadora digital portuguesa Imauppa, nome artístico de Joana Fortunato, revelou quanto ganha com a criação de conteúdos para a plataforma. Disse que em menos de um mês já faturou 60 mil euros. «Eu já recebi muitos pedidos estranhos (….), mas um deles é pôr coisas nos pés», acrescentou.

Pelos vistos, não é necessário fotografias mais ousadas para ganhar dinheiro. Pés untados em óleo, com ou sem pedicure feita, de salto alto, descalços, limpos, sujos, suados ou de meias, também têm valido milhares de euros principalmente às criadoras de conteúdo da plataforma. Corbridge, uma estudante de Leeds, Inglaterra, por exemplo, largou a faculdade em 2017 para tentar a sua sorte na rede social e depressa se tornou milionária apenas vendendo fotografias dos seus pés. A mudança de ocupação da jovem de 24 anos, trouxe-lhe um «ordenado» de 800 mil libras, cerca de 1,1 milhão de dólares (1,03 milhões de euros), tal como revelou o site Leeds Live. Antes dos seus pés se tornarem estrelas no OnlyFans, trabalhava no McDonald’s e como guia turística em part-time. O dinheiro mal dava para pagar as contas. Agora vive um estilo de vida luxuoso, com viagens pelo mundo.

No ano passado comprou a sua casa e pagou-a imediatamente. Chegou até a oferecer uma casa ao seu irmão.

 

‘O meu corpo, as minhas regras’

Apesar de todo este dinheiro, a decisão de partilhar conteúdos eróticos, ousados ou mesmo pornográficos com outras pessoas podem ter repercussões muito negativas na vida de quem o faz. Tal como Nuno Pardal, Lucy Banks defende que «o meu corpo, as minhas regas». A australiana, tornou-se milionária em apenas quatro anos graças à sua conta na rede social. No entanto, perdeu várias pessoas ao longo do tempo, sendo bastante julgada pela sua escolha em expor o corpo. «Eu venho de uma cidade pequena e toda a gente descobriu que eu criei OnlyFans. Eu discuti com todo o meu grupo de amigos. Senti-me tão mal, mas o outro lado apareceu e disse-me: ‘não fizeste nada pessoalmente a essas pessoas. Ainda és a mesma pessoa’», disse Lucy, que vive em Perth, ao Daily Mail. A sua família também começou a evitá-la, tendo alguns familiares ficado sem falar com ela durante quase dois anos. A mãe de dois filhos revelou ainda que a sua motivação para permanecer na plataforma foi «o querer estabelecer um futuro financeiro seguro para as crianças».

Atualmente tem mais de 500 assinantes na sua conta e costuma ganhar mais de 3 mil dólares (mais de 2,7 mil euros) por dia, fazendo com que ganhasse mais de 1 milhão de dólares em apenas quatro anos. Lucy proporciona uma «experiência de namorada»: os homens pagam-lhe para que faça de sua amante, oferendo um «nível de intimidade emocional». «Inicialmente, as pessoas ficaram chocadas. Foi o maior negócio do mundo, mas tem sido bom apenas viver a minha vida sem a enorme quantidade de julgamento que costumava receber», acrescentou. «Tenho assinantes que me enviam mensagens de bom dia todos os dias», contou, revelando ainda que responde de volta, conta o que comeu ao pequeno-almoço, além de saber todos os aniversários deles e os nomes dos animais de estimação.