Salsichas com massa nos fogos. Bombeiros contestam, mas MAI mantém inquérito nas mãos da Proteção Civil

Liga dos Bombeiros Portugueses criticou a opção da tutela e defende que o inquérito não devia ser dirigido pela Proteção Civil

As refeições dos bombeiros continuam a gerar polémica mas as queixas de falhas nos abastecimentos vão mesmo ser averiguada pela Direção Nacional de Auditoria e Fiscalização da Autoridade Nacional de Proteção Civil. Depois de ter sido público o despacho do Secretário de Estado da Administração Interna, Jorge Gomes, que deu instruções nesse sentido à ANPC, a Liga dos Bombeiros Portugueses (LBP) veio criticar a decisão da tutela. Ao i, Jaime Marta Soares sublinhou que a Proteção Civil “vai ser juiz em causa própria”. O presidente da Liga acusa mesmo a Proteção Civil de ser a entidade com maiores responsabilidades. “Qualquer que seja o inquérito, nós não o levamos como válido nem acreditamos nele”, rematou.

Confrontado ontem pelo i sobre as críticas dos bombeiros e se o inquérito desencadeado por imagens que mostram refeições servidas aos bombeiros nos incêndios poderia passar para outra entidade, nomeadamente a Inspeção-Geral da Administração Interna, o Ministério da Administração Interna recusou comentar as críticas da LBP. Segundo o i apurou, o processo mantinha-se ontem nas mãos da Direção Nacional de Auditoria e Fiscalização da ANPC, que tem incumbências como validar as faturas apresentadas pelas corporações de despesas no combate aos fogos. É o caso dos encargos com alimentação, já que é às corporações que compete assegurar a alimentação e hidratação do pessoal no terreno.

Como explicitou um comunicado da ANPC na terça-feira, sempre que o teatro de operações ganha dimensão e complexidade, é depois envolvido o serviço municipal de proteção civil no apoio logístico. Os valores a gastar nas refeições que são reembolsadas pelo Estado às corporações são 1,80 euros no caso de pequeno almoço, lanche e reforços de madrugada e 7 euros ao almoço e jantar. Quando se esgota a capacidade nas corporações e autarquias, podem ser ativadas cozinhas militares (como aconteceu em Pedrógão Grande, Góis ou Mação). Há kits alimentares para quando os grupos de reforço chegam ao terreno, sendo que depois a alimentação deve passar a ser assegurada pelas corporações locais. Desde 3 de agosto foram consumidos 176 kits dos 2120 distribuídos, informou a ANPC.

Queixas nas redes sociais As queixas vieram a público depois de Acácio Monteiro, comandante dos Bombeiros Voluntários de Brasfesmes, em Coimbra, terpartilhado no Facebook fotografias de refeições fornecidas aos bombeiros. Surgiram depois mais imagens e queixas, coligidas por exemplo no site da associação Bombeiros para Sempre. Nas fotografias há refeições como rodelas de salsicha com massa ou atum com feijão, que não seguem às recomendações feitas este ano pela Direção Geral da Saúde.

Acácio Monteiro disse ao i que as imagens lhe chegaram do incêndio de Oleiros, que lavrou no fim de semana. “Hoje em dia o feedback nas redes sociais tem mais impacto. Não quis algo polémico. Não era essa a minha intenção, mas sim que no futuro haja mais preocupação com aqueles que em condições adversas e extremas dão o seu melhor. É sempre difícil, nós não podemos exigir comida gourmet, mas pelo menos algo que tenha substância e um prato quente essencialmente”.

Para Jaime Marta Soares, a situação não se resolve com inquéritos mas “com reuniões locais para se apurar o que aconteceu naquele caso específico”. Com T.C.