Science4You. De um projeto de curso à empresa que mais vende na Amazon

Aos 21 anos, saiu-lhe um projeto de curso “na rifa”. Hoje, tornou-se na empresa portuguesa que mais vende na Amazon. Miguel Pina Martins, CEO da empresa de brinquedos científicos Science4You, diz que para as crianças “não há melhor presente”. Para quem quer investir, deixa um conselho: arrisquem.

Aos 21 anos, saiu-lhe um projeto de curso “na rifa”. Hoje, tornou-se na empresa portuguesa que mais vende na Amazon. Miguel Pina Martins, CEO da empresa de brinquedos científicos Science4You, diz que para as crianças “não há melhor presente”. Para quem quer investir, deixa um conselho: arrisquem.

Como é que começou a Science4U e de onde é que surgiu a ideia?
Miguel Pina Martins – A Science4U nasceu em 2008, há 15 anos, e foi o meu projeto final de curso. Na altura, estava a estudar no ISCTE, que tinha uma parceria com a Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, em que, na prática, o ISCTE montava os planos de negócio e a Faculdade de Ciências dava as ideias. Portanto, acabou por ser um projeto que me é literalmente rifado. Tirei um papelinho de dentro do chapéu, usado para sortear os temas, que dizia kits de física. Lembro-me de pensar, “mas o que é que é esta porcaria que nos veio calhar?”.
Eu e o meu grupo estávamos todos bastante tristes com a ideia e, quando fomos à Faculdade de Ciências e olhámos para o material, ainda mais tristes ficámos. Era um material gigantesco e coisas muito caras, entre 5 a 6 mil euros.

Mas acabaram por levar a coisa avante…
MPM – Sim, reparámos numa coisa nos kits que nos chamou a atenção. Tinha o símbolo da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. Poderia ser interessante ter a faculdade envolvida e dar uma certificação a estes kits. E depois pensámos: o que é que nós podemos fazer para além de kits de física? E foi aí que surgiu a ideia de fazer kits de ciência, brinquedos científicos certificados pela Faculdade de Ciências Assim nasce a ideia de fazer a Science4U.
Depois de acabar o curso, em 2007, ainda fui trabalhar quatro meses para a banca de investimento, mas percebi rapidamente que não era o que queria fazer. Em setembro, fui tentar arranjar dinheiro para a Science4U. Consegui o apoio de uma capital de risco de 45 mil euros, mas cinco mil euros tinham de ser colocados pelos promotores. Na altura, eu era o promotor, tinha 21 anos e não tinha o dinheiro. Fui basicamente fazer um peditório e bater à porta dos professores do ISCTE que nos obrigaram a fazer o trabalho e, no final das contas, acabei por conseguir o capital.
Aqui, o mais importante é que, mesmo sem dinheiro, sem uma ideia que fosse espetacular ou do outro mundo, e sem experiência, consegue-se abrir uma empresa.
Hoje em dia o empreendedorismo é um tema já toda a gente conhece, isto há 15 anos não existia, portanto, se foi possível fazer há 15 anos, hoje em dia ainda mais fácil é de fazer. Acima de tudo, é realmente necessário que exista foco, vontade de fazer as coisas e elas acontecem.

E quando é que sentiu que o negócio estava a começar realmente a crescer?
MPM – No primeiro anos vendemos à FNAC Portugal e, no segundo ano, conseguimos vender para a FNAC em Espanha. Foi aí que eu realmente percebi que isto tinha um potencial muito grande. A FNAC em Espanha tem muitas lojas, já estávamos a internacionalizar e sempre foi esse o nosso pensamento.
Eu sempre achei que a Science4U podia ser uma empresa com alguma dimensão. Conseguimos alcançar um nível interessante, ainda longe daquilo que eu acho que é possível, mas, depois de um período muito complicado da Covid, que felizmente conseguimos ultrapassar, estamos aqui, alive and kicking, e vamos fazer um ano bastante bom. Estamos muito contentes com os resultados deste ano, que foi o nosso primeiro ano pós-Covid, com mais tranquilidade.

Qual é que é, neste momento, o vosso volume de faturação?
MPM – Prevemos que o volume de faturação chegue perto dos 10 milhões de euros este ano.

Em relação ao período Covid de que falava… Foi esse o vosso maior obstáculo?
MPM – Houve muitos obstáculos, que vieram até relativamente colados uns aos outros. Um deles, mais recente obviamente, foi a Covid. Mas o outro também, muito grande e muito complicado, foi quando falhámos a Oferta Pública de Distribuição (IPO), em 2018. E, passado o ano, temos a maior crise no nosso mercado, que foi realmente a Covid, com as lojas fechadas e, acima de tudo, no nosso caso, sem festas de aniversário, que acabava por ser como nós vendíamos brinquedos.

Foi também nesse período que decidiram mudar o modelo de negócio.
MPM – Sim, nós fizemos uma evolução muito grande do modelo de negócio e podemos dizer que a Amazon, ou seja, o e-commerce, acaba por nos salvar. E é essa aposta muito grande no e-commerce, em especial na plataforma da Amazon, que nos tem trazido estes crescimentos que temos tido ultimamente e que, hoje em dia, nos levou a ser considerados uma Amazon Success Story pela própria Amazon. Pelos nossos cálculos, somos a empresa portuguesa que mais vende na Amazon, o que acaba por ser algo que nos deixa muito felizes. Hoje em dia, a Amazon é o maior retalhista mundial, portanto, conseguirmos estar nesta plataforma e termos feito um crescimento tão grande, acaba por nos deixar, obviamente, bastante orgulhosos do nosso trabalho.
Mas, sabemos que ainda há muito para crescer. Só entrámos este ano mais à séria nos Estados Unidos e isso também nos deixa com um olhar sobre o futuro muito interessante. Transformar a Science4U numa empresa de e-commerce é aquilo que nos permite ambicionar e olhar para a frente com a ambição de pôr a Science4U no sítio onde achamos que tem de estar.

A grande maioria do vosso volume de negócios e a vossa estratégia de futuro vai passar pela exportação?
MPM – A nossa estratégia sempre foi exportação. Este ano, estamos a falar de cerca de 85% do nosso volume de negócios fora de Portugal. A Science4You é uma empresa exportadora, que nasceu exportadora, nasceu internacional. Temos escritório em Madrid, escritório em Londres, e mantemos sempre esse objectivo de conseguir vender lá fora. Temos noção de que estamos num nicho de mercado, que são os brinquedos educativos científicos, e a única maneira de realmente termos mercado com dimensão é conseguirmos exportar e conquistar os mercados externos.

O que é que faz de um brinquedo da Science4You um bom presente nesta época natalícia?
Sou suspeito, mas acho que um brinquedo da Science4You não é um bom presente, é o melhor presente, porque é uma experiência que nós oferecemos aos nossos filhos, nossos sobrinhos, netos, e que a podemos passar em conjunto.
Na realidade, é uma experiência que é feita em família e esse é o melhor presente que podemos oferecer às crianças, que é passar tempo de qualidade em família a aprenderem. Além disso, também é o melhor presente que podemos oferecer a nós próprios, enquanto pais, tios, sobrinhos, avós, porque, na realidade, podemos oferecer educação e tempo com as crianças, que, hoje em dia, é aquilo que é mais precioso temos e que, infelizmente, cada vez temos menos tempo para fazer.
Ter a oportunidade de oferecer educação e uma experiência em conjunto é, de longe, a melhor escolha para este Natal, tendo em conta, obviamente, um budget pequeno. Entre 10 a 25 euros, conseguimos realmente oferecer isto tudo dentro de uma caixa.

Como é que olha para o futuro da empresa? Prevê algumas mudanças no modelo de negócio e nos próprios produtos?
MPM – Não, nós queremos continuar esta evolução no e-commerce, com taxas de crescimento altas. Esse objetivo mantém-se e continua cada vez mais alto. Depois, continuar sempre com o nosso propósito, que é permitir às crianças que aprendam enquanto brincam. Tudo o que nós fazemos irá sempre andar à volta desse propósito, isso ninguém nos vai tirar.
O crescimento irá fazer-se, obviamente, com o aumento da exportação, como temos feito na internacionalização, nos mercados exteriores, onde temos uma ambição bastante grande de, no próximo ano, conseguir crescimentos a rondar os 30%.

diana.gomes@newsplex.pt