Veados ameaçam culturas

Agricultores queixam-se de elevados prejuízos causados pelos veados. Há um descontrolo do número destes animais em todo o país, que tem crescido por falta de predadores naturais, depois da extinção do lobo em Portugal.

os veados estão a atacar os campos: os agricultores queixam-se de milhares de euros em prejuízos por causa destes animais que consomem produtos hortícolas, como, por exemplo, ramas das oliveiras. o ministério da agricultura e ambiente admite o problema, adiantando que se estende já de norte a sul do país.

«as situações onde mais frequentemente têm ocorrido reclamações são a área do parque natural de montesinho, devido às limitações à exploração que decorrem dos propósitos de conservação do parque», diz ao sol fonte oficial do instituto de conservação da natureza e florestas, tutelado pelo ministério da agricultura.

mas também há – e cada vez mais – registo de ataques aos campos na serra da lousã, em particular na área da zona conservação da natureza, «por inexistência de exploração», e na região do tejo internacional, «onde a população é flutuante entre espanha e portugal, o que dificulta o seu controlo».

falta de predadores

em causa, reconhece o ministério de assunção cristas, está a falta de controlo do número destes animais, que têm crescido exponencialmente em portugal nos últimos anos por falta de predadores naturais, depois da diminuição do lobo em portugal. ou seja, ninguém sabe exactamente quantos veados existem no país: «não existem dados sobre o efectivo da população de veado no país», reconhece fonte oficial do gabinete da ministra.

o que se conhece apenas, esclarece a mesma fonte, são «unicamente os resultados da sua exploração, o que possibilita uma extrapolação». tomando por base os números dos abates de 2010/2011, que apontam para cerca de três mil exemplares, o ministério calcula que estes constituíram, «no máximo, 20% da população». assim, o resultado, «ainda que com possibilidade de erro considerável, remete para um efectivo em exploração aproximado de 15.000 veados a nível nacional».

na verdade, ao instituto de conservação da natureza e florestas não chega a maioria das queixas de ataques, uma vez que não há obrigatoriedade de dar conta dos prejuízos à tutela. «nos termos da lei, a responsabilidade pelos prejuízos cabe às entidades gestoras das zonas de caça», avança aquela fonte ao sol. no entanto, acrescenta, «reconhece-se a existência de prejuízos limitados ao nível da agricultura e ainda em povoamentos florestais».

«o impacto dos prejuízos causados pela espécie, mais do que o valor económico global, ocorre em zonas de pequena agricultura de carácter social», acrescenta.

denúncias chegam à federação de caçadores

à federação alentejana de caçadores, por exemplo, têm chegado várias denúncias destes ataques. «de há dois anos para cá, têm-se sucedido as queixas» – diz ao sol o responsável da associação, alberto cavaco. as queixas estendem-se da margem esquerda do guadiana (onde os veados consomem, sobretudo, as ramas das oliveiras jovens) a castelo branco.

o responsável não tem dúvidas em apontar o dedo à densidade excessiva de veados no país. «deveriam fazer-se censos, mas a verdade é que ninguém os faz», lamenta. e avisa que o problema pode agravar-se: «sem qualquer controlo, os veados podem ser portadores de tuberculose sem que ninguém saiba. e isso pode colocar em causa todo o sistema alimentar».

as queixas, entretanto, sucedem-se. «os veados dizimam tudo, vão acabar com a agricultura, com a pecuária (uma vez que contaminam as vacas, que têm de ser abatidas às centenas) e com os projectos florestais (comendo as árvores, partindo e esfolando os sobreirinhos). e as autoridades locais e nacionais não mostram qualquer preocupação» – acusa um agricultor de castelo de vide, no norte alentejano. mas as acusações vão mais longe.

a ruína dos agricultores

o agricultor garante que toda a situação está a colocar muitas explorações à beira da ruptura. «há vários coutos de caça grossa em meadas e póvoa [também no norte alentejano] que não os alimentam, levando-os a vir cá fora comer tudo, levando assim os agricultores à ruína».

o instituto de conservação da natureza explica, precisamente, que as «medidas de controlo da população de veado passam pela sua adequada gestão, quer através da diminuição de efectivos (através da caça e de acções extraordinárias de correcção da sua densidade), quer da instalação de campos de alimentação e alimentação artificial».

os responsáveis do instituto aconselham a instalar «protecções das culturas».

(notícia corrigida a 19 de dezembro, às 13h.)

sonia.balasteiro@sol.pt