aos 74 anos, o poeta e ex-deputado tenta pela segunda vez a eleição presidencial, agora com apoio partidário. queixa-se de a sua campanha estar a ser ignorada nos media e diz que «não se candidata para preservar o governo do ps».
como está a correr a campanha?
muito bem, mas tem sido boicotada. há uma tentativa de desvalorizar esta campanha. isso é evidente. mas eu não aceito que a comunicação social continue a ignorar os jantares com 500 e 600 pessoas que temos feito. como é? estou outra vez na clandestinidade?
fez campanha no dia da greve?
não houve acções de campanha nesse dia. por uma questão de respeito.
teve uma posição um pouco tímida relativamente a esta greve.
não vamos voltar a esse assunto! qual timidez, qual carapuça. já foram perguntar ao cavaco silva se ele apoiou a greve geral? eu sou um candidato à presidência da república, tenho sentido de estado e de responsabilidade. por isso, reuni com as duas centrais sindicais e disse tudo o que tinha a dizer, como candidato de esquerda. esta greve é um facto sindical, político e democrático novo, num contexto novo. e pode criar uma dinâmica útil à democracia. é um alerta para a sociedade.
em 2005 não teve o apoio do ps e do governo, agora tem. articula o seu discurso com eles? não se sente mais constrangido?
não articulo, nem negoceio nada com ninguém. anunciei a minha disponibilidade sem consultar ninguém, formalizei a candidatura sem consultar ninguém. sou candidato à presidência, sou livre e sou independente. como sempre fui, mesmo dentro do próprio ps.
no contacto que tem tido com as pessoas, como explica os sacrifícios que lhes são impostos?
ao fim de 30 anos de democracia, é difícil as pessoas suportarem um certo tipo de sacrifícios, sobretudo quando não se lhes dá um sentido para esses sacrifícios. e um horizonte. a democracia avalia-se pelos resultados concretos e pelas melhorias que traz para a vida das pessoas. se a vida se transforma em recessão, desemprego e falta de horizontes, é a democracia que fica em risco. por outro lado, as pessoas estão muito descrentes dos políticos e da política. mas eu não me envergonho de ser político. é uma das divergências que tenho com cavaco silva: ele apresenta-se como um não-político candidatando-se a um cargo político. isso é mau. vamos todos assumir as nossas responsabilidades. e dizer a verdade às pessoas. eu digo que não é suportável que este ano seja difícil e que o próximo seja mais. digo que é preciso mudar de paradigma e de políticas.
e mudar de políticos também?
sim, mudar alguns políticos.
os que estão no poder?
isso é o povo que decide, mas com certeza também alguns que estão no poder.
o governo está dar o exemplo do que está a pedir às pessoas?
compreendo que queiram fazer de mim um candidato contra o governo, mas eu já fui deputado e tomei as atitudes que tomei. neste momento, o meu adversário é só o actual presidente da república.
cavaco silva parece não estar aberto a debates na televisão. vai participar na mesma?
isso é porque ele tem medo do debate. não gosta da incomodidade que é a democracia.
e fica surpreendido? da outra vez, ele aceitou.
agora, é presidente da república. é por isso. mas vai ser difícil não aceitar. acho que lhe fica mal, mostra que não gosta de contraditório. aliás, acho que, neste momento, há uma confusão entre a função presidencial e a de candidato.
corremos o risco de ter campanha apenas no período oficial?
de facto, acho que não querem que a campanha exista. a direita tem medo que haja segunda volta porque está convencida que cavaco perde. precisa que ele seja eleito logo, para que seja posto em prática o projecto que lhe está subjacente.
é a favor da adopção por casais homossexuais?
depois de aprovado o casamento homossexual, independentemente da opinião pessoal, a adopção é inevitável. eu sou de outra geração. a adopção sempre me pôs mais problemas, mais engulhos do que o resto. não tenho um preconceito, mas penso nas crianças. as crianças são muito cruéis… mas pode ser que a sociedade mude muito. seja como for, sou pelas liberdades e pela eliminação das discriminações.