Projectos portugueses no Magrebe com ordem para parar

Os países do Magrebe têm «grandes potencialidades e Portugal tem ali uma grande capacidade competitiva, sendo aquela região um eixo estratégico da diplomacia económica portuguesa». Há quase um ano, quando fazia esta declaração, o presidente da AICEP – Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal estava longe de imaginar o cenário de revolta…

grande defensor, durante anos, do magrebe como pólo diversificador das exportações e da internacionalização das empresas portuguesas, basílio horta considera agora que «este não é momento para os portugueses investirem naqueles mercados», devido à crise política e social que estão a viver.

em declarações ao sol, o responsável – que antes, ao lado do primeiro-ministro josé sócrates, apelava a uma atitude de confiança das empresas portuguesas no norte de áfrica – recomenda agora que «os novos projectos de investimento sejam travados até que assente a poeira». basílio horta aconselha os empresários a esperarem para ver qual vai ser a evolução política nestes países, «uma vez que ainda não se sabe qual vai ser o desfecho: democracia ou radicalismo, e estes fenómenos têm riscos reais para a vida das pessoas e para os negócios».

a aicep está, segundo o seu presidente, a acompanhar, diariamente, a situação. para ajudar a este trabalho, um responsável da agência para o investimento foi enviado na terça-feira passada para a argélia. «temos informações de que há já uma manifestação marcada para o dia 12 de fevereiro na argélia e este país preocupa-nos muito, porque temos lá muitas empresas», justifica basílio horta. já o egipto era, ironicamente, um dos três mercados escolhidos pela aicep para expandir as relações económicas de portugal em 2011, relata o responsável, argumentando que «é a segunda maior economia de áfrica e quase não era explorada por portugal».

a actividade das empresas lusas a operar no egipto já está a sofrer as consequências das agitações populares, espoletadas pela subida dos alimentos. a cimpor reduziu a produção nas fábricas de cimento que detém nos arredores de alexandria; a wedo, do grupo sonae, tem os seus escritórios do cairo encerrados há uma semana; e a parfois foi saqueada, durante os tumultos, nas duas lojas que detém em alexandria, segundo noticiou o jornal de negócios na terça-feira. até ao fecho desta edição, não foi possível apurar desenvolvimentos junto das empresas em causa.

o presidente da câmara do comércio luso-árabe diz ao sol estar confiante de que no caso da indústria cimenteira «não haverá razões de preocupação maior, dadas as necessidades do egipto deste material de construção». quanto a perspectivas sobre o alastramento das revoltas a outros países da região, ângelo correia considera que «ainda estamos no momento de análise» e salienta que «uma coisa já é certa: estamos a assistir a uma mudança de política no mundo islâmico, com o final das autocracias».

o sol tentou contactar as principais empresas que estão a operar na argélia, tunísia, marrocos e líbia e as que têm projectos anunciados para estes países, mas não recebeu respostas oficiais. informalmente, fontes de algumas empresas explicam o silêncio, argumentando que o assunto é delicado, tendo contornos diplomáticos e políticos, além dos económicos.

tania.ferreira@sol.pt