Médica e enfermeira envolvidas no caso do ‘falso’ clínico

A Inspecção-Geral das Actividades em Saúde (IGAS) abriu um processo disciplinar a uma médica de um centro de saúde da Grande Lisboa, depois de ter descoberto que ela era cúmplice do ‘falso’ médico, detido na semana passada pela Polícia Judiciária. Uma enfermeira está também já a ser investigada por estar relacionada com o mesmo caso.

o ‘falso’ médico exercia desde 2006 em várias clínicas e lares de idosos, e tinha uma lista de 300 doentes, sobretudo idosos, a quem
prescrevia medicamentos e exames complementares de diagnóstico, e a quem cobrava as consultas, revelou a pj em comunicado.

segundo soube o sol, foi esta clínica geral, que tinha uma relação próxima com o falso médico, que permitiu a daniel continuar a exercer medicina. a médica terá apresentado daniel em várias das clínicas e lares onde
ele viria a trabalhar, abrindo-lhe as portas e dando credibilidade ao seu nome
como médico.

além disso, era ela que passava as receitas dos medicamentos
que ele prescrevia aos seus doentes. nas consultas, daniel nunca dava a
receita, dizendo sempre aos doentes que lhes entregaria a receita no dia
seguinte. a prescrição era depois assinada pela médica e tinha o autocolante
com o seu código de barras.

o envolvimento de uma enfermeira neste esquema para ocultar
o facto de daniel não ser médico está também a ser investigado, quer pela pj
quer pela igas, devendo em breve ser aberto também um inquérito disciplinar a
esta profissional.

a igas, entretanto, já comunicou a abertura do processo à
médica e ao centro de saúde onde ela exerce. segundo soube o sol, a
investigação da inspecção deverá alargar-se às clínicas médicas e aos laboratórios
de análises com quem o ‘falso’ médico manteve relações profissionais.

a pj manteve, durante algum tempo, o falso médico sob escuta. a sua detenção, aliás, aconteceu quando daniel começou a tentar
convencer colegas e pacientes a mentirem sobre a sua actividade como médico,
apesar de garantir sempre que até chegara a trabalhar no hospital de santa
maria.

segundo o correio da manhã, o ‘falso’ médico foi mesmo apanhado no momento em que tentava dissuadir as testemunhas, pedindo-lhes que
não dissessem às autoridades que continuava a exercer como médico, pois fora
alvo de um processo por negligência e poderia vir a ter problemas.

daniel foi constituído arguido e presente ao juiz de
instrução criminal na semana passada, indiciado pela prática dos crimes de usurpação
de funções, falsificação de documentos e burla.

a médica que o terá ajudado já foi constituída arguida e
arrisca também uma acusação criminal, além de incorrer numa pena de expulsão da
função pública, por ter encoberto e colaborado com o ‘falso’ clínico.

graca.rosendo@sol.pt