O vício do amor

O amante apanhado nas garras do amor romântico comporta-se como um adicto, seguindo a mesma linha de conduta.

quem nunca sentiu os sintomas do vício do amor, nunca amou verdadeiramente. a poesia e a literatura também são viciadas neste tema, alimentam-se dele e alimentam as nossas almas com ele; todos fomos já, ou somos ainda e alguns de nós seremos sempre, viciados em amor.

os sintomas do amor romântico que passam por sentimentos pouco controlados que nos provocam ansiedade, obsessão, distorção da realidade, perda de auto-controlo e alterações de personalidade, são considerados por muitos psicólogos uma dependência. a dependência é feliz em amores correspondidos, mas se tal não acontece transforma-se numa fixação negativa da qual não nos conseguimos libertar. e é aqui que a fronteira entre o saudável e o patológico se dilui; pode uma pessoa ser considerada louca, só porque é louca por amor? pode o vício do amor levar-nos à loucura? acredito que não devemos ser tão fatalistas e que as feridas emocionais causadas pelo amor – ou pela ausência dele – podem, com tempo, paciência, disciplina e auto-estima, encontrar uma cura mais profunda do que um paliativo.

em termos científicos, está provado que o amor actua no cérebro como uma droga; os neurologistas andreas bartels e semir zeki compararam as imagens dos cérebros de um conjunto de sujeitos enamorados com os de homens e mulheres que se tinha injectado com cocaína e opiáceos e constataram que muitas das zonas do cérebro activadas coincidiam.

não precisamos de estudos científicos para nos apercebermos de como os sintomas são semelhantes: o amante apanhado nas garras do amor romântico comporta-se como um adicto, seguindo a mesma linha de conduta – tolerância, ressaca e incidência. primeiro, contenta-se em ver o amado de vez em quando, mas à medida que a dependência aumenta, precisa cada vez mais de estar com ele, em pouco tempo já não se imagina a viver sem o outro. e quando um termina a relação, o outro mostra os mesmos sinais que sofre uma pessoa em fase de ressaca de uma droga: depressão, choro, ansiedade, insónia, perda de apetite ou apetite excessivo e tendência para o isolamento. é como se quiséssemos deixar de estar acordados; damos por nós a comer três bolas de berlim seguidas e a desatar em prantos de cada vez que o nome do outro é mencionado.

mas depois passa. tudo acaba por passar, de uma maneira ou de outra. o tempo rouba tudo, altera a realidade e altera-nos por fora e por dentro. os fulas do norte dos camarões pagam a um xamã para executar rituais que expulsem o amante da sua mente. os astecas diziam feitiços. eu acho mais prático uma pessoa manter-se ocupada, iniciar um hobby totalmente novo que sempre quis descobrir, fazer desporto e dormir bem.

é fundamental nunca nos esquecermos de que, se somos dados ao vício do amor, seremos sempre adictos e por isso devemos aprender a viver um dia de cada vez, até porque o cupido é eterno e nunca se cansa de nos surpreender. por isso, entre a ressaca de um amor perdido e a vertigem de um novo amor, convém carregar baterias e aproveitar para pôr o sono em dia.