há algumas semanas, vários nomes do núcleo duro do secretário-geral socialista tinham já vindo a público marcar posição, defendendo que, mesmo face a um cenário de derrota nas próximas eleições legislativas, sócrates terá todas as condições para manter a liderança. uma tese que saiu reforçada com os números da vitória de sócrates nas eleições directas no partido – 93,3%. e, já esta semana, com a entrevista do primeiro-ministro em funções à rtp.
«não faz sentido que o líder que foi eleito agora, com grande unidade do partido, seja posto em causa logo a seguir», defende edite estrela, eurodeputada e membro do secretariado. josé lello, deputado e um nome próximo do líder socialista, argumenta que uma derrota eleitoral nunca ditou a saída de um líder do ps: «nunca, nunca aconteceu». correia de campos alinha pela mesma ideia. renato sampaio, líder do ps/porto, alinha pela mesma ideia: «a nossa cultura política não é a do psd, que acha que um líder que não ganha eleições tem de ser corrido. o ps_é um partido mais estável. e é tão digno estar no governo como na oposição».
os avisos do psd e cds de que admitem acordos com o ps, mas sem josé sócrates como secretário–geral, não demovem – muito pelo contrário – os socialistas.
questionado sobre se o secretário-geral pode ser um obstáculo a um entendimento, manuel alegre é taxativo: «quem escolhe o seu líder é o ps. e o ps escolheu por grande maioria o engenheiro sócrates». já sobre o destino de sócrates se não vencer as eleições, o ex-candidato presidencial não se pronuncia.
«quem escolhe o secretário-geral do ps são os socialistas. e este secretário-geral foi escolhido há muito pouco tempo», refere igualmente miranda calha, deputado e também membro do secretariado. «a oposição não condiciona a liderança do ps», diz por seu turno josé lello. a hipótese de um afastamento de sócrates para facilitar um entendimento é completamente afastada.
em entrevista à rtp1, sócrates afirmou que, após as legislativas antecipadas de 5 de junho, o ps «está, como sempre esteve, disponível para o compromisso e para o diálogo».
o que é válido para o cenário de uma vitória minoritária dos socialistas: «se o ps ganhar as eleições sem maioria farei o meu melhor para que portugal tenha um governo maioritário no parlamento. isso é absolutamente imprescindível». o primeiro-ministro em funções foi menos claro quanto a um cenário de vitória do psd, mas manteve que «quem ganhar deve ter um governo maioritário» e que estará disponível para o diálogo. e, pelo caminho, foi avisando que não compete aos partidos da oposição pronunciarem-se sobre a liderança dos socialistas.
se josé sócrates vencer as próximas eleições, por poucos votos que seja – um cenário apontado como difícil, mas possível, entre os socialistas –, sócrates estará disposto a formar governo e deixará à oposição o ónus de uma recusa. o que poderá rapidamente transformar-se num impasse, dada a improbabilidade de alianças à esquerda. isto num contexto em que o presidente da república já fez saber que defende a necessidade de um amplo consenso: ou seja, um governo maioritário.
se o cenário for o inverso, com o psd a ganhar sem maioria, um dado é certo: seja qual for a solução encontrada, nunca passará por um governo que junte passos e sócrates. o que está longe de ser sinónimo de uma saída do cargo de secretário-geral.
se uma vitória de josé sócrates, por escassa que fosse, afastaria qualquer debate em torno de uma eventual sucessão, já o cenário de uma derrota causa opiniões divergentes entre os socialistas.
em particular num cenário de maioria da direita, há quem não tenha dúvidas: «sócrates tem de sair». outro socialista diz-se convicto que esta não será uma questão que dividirá o ps: «sócrates não está agarrado ao poder. saberá quando for o momento de sair».