Jerónimo entre o museu, a fábrica e a arruada

É significativo que em Famalicão o secretário-geral do PCP tenha ido não a uma fábrica, mas ao Museu da Indústria Têxtil. A batucada dos velhos teares emprestou uma banda sonora alternativa à CDU – e que decerto teria feito as delícias dos fãs de música industrial.

no final da visita guiada, a que jerónimo seguiu com genuíno interesse, teceu comentários sobre o «sector importantíssimo» que é a indústria têxtil , lembrou as «potencialidades do país», ao mesmo tempo que se mostrou preocupado com a ausência de «medidas para proteger a indústria têxtil e de calçado».

de um museu passou para uma fábrica de pneus. à porta da continental mabor, em lousado, distribuiu panfletos, um ou outro aperto de mão e pouco mais, que quem entra ou sai do trabalho leva sempre pressa. defronte da entrada da fábrica esconde-se uma tasca.

a servir tacinhas, cerveja e petiscos aos operários está um colega de profissão. porque os tempos estão maus, joão oliveira faz uma perninha na venda. conhece jerónimo de gingeira, quando este era coordenador das comissões de trabalhadores e aquele representava os colegas da fábrica. desta vez não se vão ver. é hora de a comitiva seguir para braga.

a cidade não está para festas – ainda a recuperar da sonho perdido para o porto – e os primeiros metros de ‘contacto com a população’ indiciavam uma arruada cabisbaixa. «é sempre em frente», indicam ao líder comunista. até as primeiras palavras de ordem da jcp saíram tímidas.

numa esplanada, um jovem comentava com desprezo para a companhia femina: «vem aí os comunistas!». segundos depois, sem conseguir disfarçar o incómodo, lá recebeu um folheto e um ‘bacalhau’ do líder vermelho. mais à frente, ao pé da brasileira, a mesma reacção de agastamento partidário, desta feita no ps. uma transeunte dizia para quem queria e para quem não queria ouvir: «este é que tem razão. é melhor no sócrates, se calhar…». metros à frente, outra senhora de meia idade procurou jerónimo. «voto em si há muito ano. os dois maiores partidos são um bando de comedores».

a acção em braga terminou com discursos de agostinho lopes, cabeça de lista por braga, e de jerónimo. além de zurzir nos três partidos que subscreveram o acordo com o fmi, e no próprio fmi, jerónimo levantou a questão das quotas de produção leiteira. «quem acabar com as quotas atira à falência 8500 produtores num sector em que somos auto-suficientes». para o líder do pcp, se as quotas forem extintas, potências como a alemanha ou a dinamarca liquidarão o mercado.

a noite da cdu – e de jerónimo – em braga terminou com um comício em pevidém. o regresso ao distrito está marcado para o penúltimo dia de campanha, 2 de junho.

cesar.avo@sol.pt