Passos para Sócrates: ‘Não tem desculpa’

Tenso, com muita papelada e pouca moderação. No final, já sem os sorrisos iniciais, as faces fechadas de ambos (Sócrates evitava até olhar para o oponente) sublinhavam a violência verbal da discussão à volta de temas como a saúde, o mercado de trabalho e a crise política e financeira do país. Se dúvidas houvesse, o…

desde o início, o objectivo dos dois oponentes foi claro. pedro passos coelho foi para o debate apostado em centrar a discussão nos anos da governação socialista. josé sócrates centrou a estratégia nas propostas dos sociais-democratas.

se nos primeiros minutos passos coelho teve dificuldade em voltar a discussão para os governos do ps, foi conseguindo depois passar à ofensiva, marcando ao longo do debate que sócrates se recusava a discutir o seu programa e a sua governação.

na fase inicial, a discussão centrou-se durante longos minutos na área da saúde, com sócrates a afirmar que passos coelho é a favor do co-pagamento no serviço nacional de saúde, uma tese que o líder do psd apelidou de falsa, mas sem especificar se defende o pagamento dos serviços médicos do sns.

na área do trabalho, sócrates acusou o líder social-democrata de querer liberalizar o trabalho temporário, enquanto passos coelho defendeu que «muitas empresas fecharam em portugal» por o governo não ter pedido ajuda externa mais cedo, dado que os bancos canalizaram dinheiro para a compra da dívida portuguesa e não para a economia.

e se sócrates não o fez, foi por interesse pessoal, acusou: «o senhor está agarrado ao lugar de primeiro-ministro». uma resposta às críticas de sócrates, que tinha antes responsabilizado o psd pela crise política que levou o país para eleições, afirmando que os sociais-democratas o fizeram por interesse partidário.

documentos, gráficos vários e até uma disquete serviram de instrumento para a troca de palavras, enquanto o sistema de medição do controlo de tempos falhava, prejudicando a moderação e favorecendo as interrupções constantes.

na mensagem final, passos coelho, assumindo que não tem experiência, prometeu formar um governo «competente e capaz». o contrário do actual, diz, que deixou o país «à beira da bancarrota, com 700 mil desempregados e o estado social em risco». e atirou ao primeiro-ministro: «não tem desculpa». sócrates propôs-se continuar uma «governação responsável e moderada», acusando o líder laranja de aventureirismo.

imagens do debate

manuel.a.magalhaes@sol.pt
suste.francisco@sol.pt