não há que enganar: o campo 25 de abril, o parque central álvaro cunhal ou o largo catarina eufémia demonstram ao visitante mais distraído que está em terreno comunista. assim é baleizão, pequena terra perto de beja, imortalizada pelo facto de a gnr ter assassinado a camponesa catarina eufémia. foi há 57 anos, e não há um que passe que a população e o pcp não lhe prestem homenagem. «enquanto houver baleizão não esqueceremos catarina», prometeu uma das cantoras do grupo coral da terra.
assim foi o primeiro dia de campanha oficial da cdu, entre a romagem ao cemitério, o discurso marcadamente ideológico em terras alentejanas e um comício à tarde em lisboa, no parque eduardo vii.
não é só a máquina partidária do ps que importa camionetas de pessoas. é certo que não são paquistaneses nem africanos, são habitantes da ‘desértica’ margem sul que se mistruram com a envelhecida população. um menino com o equipamento do amora empunha uma bandeira da cdu, à espera. quem não subiu ao cemitério abriga-se à sombra ou enfia-se em cafés como o rato. estamos longe da hora de almoço e as minis já se impõem como aperitivo, ou pequeno-almoço, vá-se lá saber.
«primeiro vou falar», respondeu jerónimo a um habitante que, à porta da sociedade filarmónica, o convidou a beber um copo. mas antes ainda actuaram os grupos corais locais e discursou o candidato por beja joão ramos. mas quando tomou a palavra não parecia ter a boca seca. após dizer que «há queira apagar a memória de catarina eufémia», sem identificar quem, passou para um discurso com notas ,marcadamente ideológicas e que podia ter sido ouvido há 15 ou 20, não se desse o caso de também elencar as consequências das medidas de austeridade relacionadas com o acordo ue/fmi.
«ps, psd e cds tudo fazem para que as novas gerações percam o fio condutor» da mudança histórica, referindo-se à luta de classes. «vemos investirem-se milhões na glorificação do fim da história».
passou depois a um elogio da reforma agrária, esse «acontecimento maior». não fossem «os inimigos» da dita reforma, que «puseram o alentejo a ferro e fogo», e hoje o país «podia ter resolvido os problemas da produção». para depois fazer o ponto da situação: «que temos hoje? terras abandonadas, desemprego, a saída da juventude». e deu um exemplo concreto, ao dizer que portugal apenas produz 11% do trigo que consome.
antes do final de punho em riste, a cantar ‘avante, camarada!’ e a ‘internacional’, jerónimo de sousa prometeu levar a votos, na assembleia da república, um programa estratégico para o alqueva, no qual se prevê a utilização de um banco de terras do estado por parte de pequenos agricultores. «é imperiosa a intervenção do estado. o país e a região precisam de produção, precisam de emprego».