180 segundos

Eles falam, falam, falam, mas não fazem nada. A frase, também de um sketch que muito contribuiu para a fama dos Gato Fedorento – aquele em que Ricardo Araújo Pereira não se calava sem dizer coisa com sentido algum… «Ah! E tal» –, resume a ideia que os portugueses têm dos seus políticos: falam muito,…

não será (ou seria) tanto assim, mas a verdade é que tanta propaganda, tanto discurso, tanta entrevista, tanto falatório já cansou.

vítor gaspar, o novo ministro das finanças, estreou-se esta semana nas reuniões com os seus homólogos da união europeia – ecofin – apresentando o plano do governo português para o reajustamento das contas públicas em apenas… três minutos.

180 segundos foi quanto lhe bastou.

o que deu até títulos de notícias.

e dá também título a esta crónica.

porque se justifica.

porque, mais do que de uma mudança de estilo, trata-se de uma ruptura na forma de fazer política e de governar.

na sua primeira intervenção na assembleia da república, durante o debate do programa de governo, vítor gaspar manteve um tom maçadoramente pausado e monocórdico.

claro está que, no imediato, não faltou quem lhe apontasse a inexperiência ou a falta de traquejo político e de dotes tribunícios.

pois sim. o ministro das finanças mais não disse do que o estritamente necessário e tão só o que queria dizer.

com uma virtude, de sublinhar: a preocupação com a correspondência entre o discurso e a realidade; entre aquilo que o governo se propõe fazer e o que está a preparar para que seja feito.

falarverdade foi uma reclamação de passos coelho junto do governo de josé sócrates, um compromisso assumido pelo líder do psd na campanha eleitoral e uma prática do primeiro-ministro nestas primeiras semanas do novo executivo.

e é assim que tem de ser.

o calculismo político e o (chamado) politicamente correcto, a propaganda eleitoralista e a demagogia populista está visto que não interessam a ninguém. nem mesmo àqueles que julgavam que sim.

é preciso dizer o que tem de ser dito. nada mais.

não vale a pena passar a vida a falar do mesmo, do estado a que as coisas chegaram, da pesada herança, da culpa de quem a legou, dos adamastores da era moderna.

de nada adianta nem importa.

se o silêncio é de ouro e o tempo é dinheiro, o governo vai pelo caminho certo na sua estratégia de comunicação, sem exercícios de retórica e de propaganda.

se passos coelho não aparece todos os dias nos telejornais, se há ministros que ainda nem são conhecidos da opinião pública, se os membros do governo não dão entrevistas por dá cá aquela palha, não é negativo. é até um bom sinal, de que estarão mais preocupados em cumprir as difíceis funções que lhes estão confiadas do que em gerir a respectiva imagem mediática ou notoriedade.

o que se exige ao primeiro-ministro, ao ministro das finanças e demais governantes é que poupem (também) nas palavras e concentrem esforços na governação.

porque essa é que não pode falhar.

passos coelho disse, e bem, que não perderá tempo a falar dos erros e das culpas do anterior governo.

não há tempo para isso, nem isso algum dia o desculpará.

as culpas e desculpas de quem governa são julgadas nas urnas.

ora, o anterior governo já foi julgado – e, no caso, condenado.

o novo governo sê-lo-á a seu tempo – e o peso da herança recebida contará tanto ou tão pouco quanto melhores ou piores forem os resultados da nova governação.

mario.ramires@sol.pt