Guerra

Eis a pior notícia que li esta semana, de uma secura sem par: 25 imigrantes esconderam-se na casa das máquinas de uma embarcação de 15 metros que transportava 271 outros clandestinos no porão. Os primeiros chegaram mortos a Lampedusa. Os gases e o calor deram cabo deles. Reza a notícia que quando tentaram subir para…

quem é responsável? um cínico diria «os próprios». o seu parceiro do lado, outro cínico, apontaria para «os de cima, os do porão». pelo meu lado tenho uma certeza: quem deveria ir a julgamento por estas 25 mortes são os governantes que se envolveram na guerra miserável que está em curso na líbia, ao arrepio de qualquer direito internacional, incluindo o da péssima decisão, há muito ultrapassada pelos acontecimentos, do conselho de segurança das nações unidas.

aqueles nigerianos, somaleses e ganeses nunca se teriam atirado para uma ‘câmara de gás’ sem a vontade imperiosa de escaparem a uma guerra que, mais dia menos dia, acabaria com eles como tem acabado com outros.

a guerra da líbia, que é civil e é de agressão externa, é a causa directa desta tragédia e os que a decidiram são responsáveis. o sucedido não é um ‘efeito colateral’. é bem mais do que isso. são largas as centenas de homens, mulheres e crianças que voltaram a ser engolidas pelo mediterrâneo nos últimos meses. só em abril, a conta cifrou-se em 250. mas enquanto a guerra prosseguir na líbia – e ela vai prosseguir – contem com mais, sempre com mais.

contem com a vergonha dos governos que bombardeiam ali enquanto silenciam acolá. contem com resistências infiltradas por agentes secretos que se envolvem em disputas de sangue e assassinatos que retiram credibilidade a quem actua em nome da democracia. e contem com um ditador que vende cara a vida, e a dos seus, que esta guerra também é civil e não se vislumbra, para qualquer um dos lados, compromisso com honra, o único modo de reconduzir as armas à política.

por comparação, andam bem a tunísia e o egipto, com revoluções soluçantes e eleições em outubro. mesmo a revolta síria, justa e inevitável, tem mais hipóteses, porque o seu destino não está ligado a uma nova aventura militar. sarkozy, cameron e obama contentam-se com embaixadas e espiões e em manter damasco sob pressão. não desejam uma nova frente de guerra. e também não teriam como obter a sua legitimação na onu: a rússia e a china sabem que a síria conta… e mais ainda os seus vizinhos.