Rosalina pensava ir ao encontro de outra pessoa

A 7 de Dezembro de 2009, Rosalina Ribeiro abandonou o seu apartamento para ir encontrar-se com uma pessoa que, segundo contara às amigas, vinha da parte de Duarte Lima – e não, como acabou por acontecer, com o próprio advogado.

No dia seguinte, logo pela manhã, a fadista e amiga Maria Alcina Duarte, que já tentara falar com ela em vão na noite anterior, ligou-lhe várias vezes para casa. Ninguém atendeu. À tarde, um mau pressentimento envolveu a cantora: «Não era normal a Lina estar tanto tempo sem me dizer nada. Falávamos sempre duas vezes por dia, no mínimo. Aí, liguei à Rose, que também ficou preocupada».

Rose, que quando a amiga estava em Portugal, tratava do apartamento e tinha as chaves de casa, pôs-se a caminho: «A cama estava feita, não tinha dormido em casa, e as malas, como estava de partida para Portugal, estavam feitas em cima da cama. Liguei logo para o advogado dela».

Normando Marques, o advogado de Rosalina no Brasil, não perdeu tempo. No dia seguinte, como continuava sem notícias, pediu aos seguranças do apartamento as gravações do sistema de vigilância. Rosalina Ribeiro saíra de casa nessa segunda-feira, às 19h58, com uma pasta de documentos na mão – e não voltara a entrar. Seguiram-se telefonemas para hospitais e morgues apenas na área do Rio, mas nada. A Polícia disse-lhe que só podia apresentar queixa 48 horas depois do desaparecimento. Normando ligou então a Valentim Rodrigues – o advogado que em Portugal, por indicação de Duarte Lima, tratava dos interesses da desaparecida – a dar conta do sucedido.

Dois dias depois, Duarte Lima, que se encontrava no estrangeiro, ligou a Normando e deixou-o desorientado: «Pediu-me o número e o fax da polícia porque tinha informações importantes sobre o desaparecimento dela. E é aí que me diz que se tinha encontrado com ela nessa noite e que a tinha levado, a seu pedido, ao encontro de uma tal Gisele em Maricá. Segundo me explicou, essa mulher estaria interessada em comprar o direito de herança de Rosalina no Brasil. Não batia certo. A própria Rosalina, quando falámos sobre o interesse de Arlindo Guedes [arrendatário de uma fazenda de Tomé Feteira] nesse negócio, tinha-me dito que ele também não concordava».

A perplexidade, ainda hoje, toma conta do rosto do brasileiro: «Se era eu quem tratava de tudo no Brasil e tinha o domínio dos processos, como é que ele vem encontrar-se com ela e eu não sei de nada? Confesso que, no início, me senti traído. Porque é que ela não me tinha contado? E que Gisela é essa que nenhum dos seus amigos ouviu falar e, tanto quanto sei, não se encontra em nenhuma das suas agendas?».

Podia ter sido o crime perfeito

Só onze dias depois – no seguimento de vários e-mails enviados pelo advogado Normando Marques para as morgues de vários municípios, e de a fotografia de Rosalina ter sido espalhada pela cidade – é que o cadáver de Roslaina Ribeiro, sem identitificação, acabou por ser encontrado no Instituto de Medicina Legal de Cabo Frio (município ainda mais afastado do Rio), para onde fora transportado devido a uma avaria na câmara frigorífica de Saquarema.

Para o advogado brasileiro, poderia ter sido o crime perfeito: «Levaram-lhe os documentos e, se nós não nos tivéssemos mexido, seria enterrada como indigente. Aqui, quando não se identifica uma pessoa, faz-se a autópsia, retiram-se tecidos para a recolha as impressões digitais e, se ninguém a reclamar, enterra-se passados quinze dias», explica Normando Marques.

felicia.cabrita@sol.pt