5,5 milhões foram para conta de Duarte Lima

Foi no âmbito de um processo-crime em que Rosalina Ribeiro era arguida, no DIAP de Lisboa, que se ficou a seber, escassos meses antes da sua morte, que dinheiro das suas contas e de Tomé Feteira tinha ido parar a Duarte Lima.

Um ano após a morte de Tomé Feteira, em 2001, Olímpia Feteira, a sua única filha e cabeça-de-casal dos seus herdeiros, correra para os tribunais: queixava-se de a secretária do pai (ou «concubina», como denominava Rosalina), sonegara informações sobre o seu património, impedindo que fosse feito o inventário da fortuna. E ainda que, logo após a sua morte, Rosalina desviara avultados montantes das contas de Feteira e de contas que ambos tinham em conjunto, em Portugal e noutros países.

Rosalina foi constituída arguida e terá sido nessa altura que escolheu Domingos Duarte Lima, figura de peso do PSD, para coordenar a sua defesa. Mas o causídico, à época deputado, não podia advogar e a procuração foi passada a dois colegas: Valentim Rodrigues, em Portugal, e Normando Marques, que trabalhara anos a fio para Feteira, no Brasil (onde, pelos mesmos motivos, corriam outros inquéritos).

Em Setembro de 2009, antes de partir para o Rio de Janeiro – onde ia ser ouvida num dos processos em que Olímpia pretendia deserdá-la –, Rosalina ainda não estaria ao corrente do resultado das cartas rogatórias que as autoridades portuguesas tinham enviado para outros países, nomeadamente a Suíça, para apurar os movimentos bancários das suas contas e de Lúcio.

Transferências suspeitas

Só no final desse mês é que as rogatórias foram abertas e ficou a saber-se que Rosalina, por sua iniciativa ou de outrem, tinha levantado em 2001, meses após a morte de Lúcio, das contas que tinham em conjunto, cerca de oito milhões de euros. E que depositara esta quantia numa outra conta, que criou no mesmo banco, o UBS.

Meses depois, a maioria desse dinheiro – à volta de cinco milhões e meio de euros – foi transferida para uma conta de Duarte Lima nesse mesmo banco. Na posse destes dados, o Ministério Público, já em 2011, constituiu Duarte Lima arguido num processo autónomo.

Mas quando foi ouvido, já depois da morte da cliente, Duarte Lima explicou que estivera aos seus serviços entre 2001 e 2009 e que aquela verba seria para pagar os seus honorários como advogado.

Em Outubro, já o processo-crime que Olímpia lhe movera em Portugal deixara de estar em segredo de justiça e um dos adrogados de Rosalina, Valentim Rodrigues, pediu a consulta. Se este causídico não tinha conhecimento da quantia que fora transferida para Duarte Lima no UBS de Zurique, passou então a ter. Se comunicou ou não o facto a Rosalina, já não se pode apurar. Os amigos desta só tiveram conhecimento muito mais tarde, pelos jornais, quando ela já não poderia ser ouvida.

felicia.cabrita@sol.pt