Confidências do dia em que Rosalina morreu

A 27 de Novembro de 2009, o advogado Valentim Rodrigues informou o Ministério Público em Lisboa que Rosalina – que estava com termo de identidade e residência, dada a sua condição de arguida –, «para tratar de assuntos pessoais e de saúde inadiáveis (…) irá continuar no Brasil até finais de Dezembro».

na realidade, rosalina andava de perfeita saúde – mas intrigada, de facto. dias depois, conferenciou com rose: «o duarte lima ligou-me e disse que ia enviar uma pessoa de sua confiança para falar comigo. mas não me quer dizer o nome pelo telefone». o encontro ficara agendado para o dia 7 de dezembro, quatro dias antes da data prevista para o seu regresso a portugal. também com alcina duarte, apesar de lhe ter sido pedido o contrário, teve o mesmo desabafo: «contou-me do encontro com duarte lima, mas disse-me que ele lhe pedira para não contar a ninguém porque os telefones podiam estar sob escuta. e a verdade é que ela tinha essa paranóia».

o fim

chegou o dia da reunido com a tal pessoa enviada por duarte lima. rosalina ribeiro andava na azáfama das vésperas da partida, arrumando as malas, pois ia passar o natal a portugal. por volta das 16h30, rose ligou-lhe e notou que rosalina começara a enervar-se com a espera: «ela estava a preparar tudo para regressar a portugal, mas estava cheia de curiosidade para saber com quem seria o encontro. estava encucada, e disse-me: ‘mas porque é que ele me manda uma pessoa e não diz o nome, não me diz nada? se a pessoa chegar à noitinha, vou ter de a levar para jantar porque já não tenho nada que lhe possa oferecer’». foi a última vez que rose falou com a amiga.

às 19h58, ficaram registadas as últimas imagens de rosalina ribeiro com vida: desce no elevador, com os dedos compõe os cabelos brancos e coloca-se de lado para ver no espelho se o vestido branco estampado de flores pretas lhe assenta bem. sai e vira à direita. na mão esquerda, levava a mala de mão e uma pasta com documentos.

felicia.cabrita@sol.pt