Director da Autoeuropa: ‘Hoje seria impossível trazer a fábrica para Portugal’ [vídeo

A fábrica da Volkswagen (VW) em Palmela começou a ser construída há 20 anos. Em entrevista ao SOL, o director-geral, António de Melo Pires, mostra orgulho no percurso percorrido, mas avisa que é necessário «lutar».

se a fábrica não estivesse construída e tivesse de ser negociada a vinda de uma autoeuropa para portugal, hoje haveria mais ou menos dificuldades do que há 20 anos?

seria muito mais difícil. diria até que seria impossível. toda a globalização fez com que o foco do mercado esteja agora na américa do sul, na china e um pouco nos eua. e não faz sentido exportar carros da europa para os eua, porque é demasiado caro, devido à taxa de câmbio. o mercado sul-americano é ainda protegido por barreiras alfandegárias e a china fica demasiado longe. seria impossível pensar num investimento idêntico ao da autoeuropa em portugal.

sempre que a produção da fábrica fica abaixo do potencial, especula-se sobre uma eventual deslocalização. esse ‘fantasma’ está completamente ultrapassado?

não pode dizer-se que esteja sempre totalmente ultrapassado. o mundo hoje está muito instável, as condições mudam quase todos os dias e uma coisa temos de ter sempre em mente: temos de lutar diariamente pela nossa competitividade, como forma de manter a empresa aqui. hoje não há favas contadas. é necessário trabalhar para garantir que a empresa tem sustentabilidade suficiente para que ninguém pense em deslocá-la.

com a crise financeira, os países do sul da europa são muitas vezes vistos como laxistas e pouco produtivos. sente essa imagem nas conversas que tem com a sede, na alemanha?

a nível da vw, não. as empresas do grupo são comparadas e os nossos níveis são dos melhores. obviamente que, a nível de país, há uma imagem negativa do que é portugal, devido à publicidade negativa que surgiu com a questão da dívida. hoje é mais difícil fazer com que as portas se abram quando alguém vai ao estrangeiro propor algum investimento. as dificuldades começam logo por aí.

como se rebate essa percepção?

com construção de imagem. é necessário mostrar que temos factores positivos em portugal. temos mão-de-obra qualificada, boas infra-estruturas e apresentamos argumentos de qualidade e produtividade que outros países não têm. mas para isso é preciso que seja feita uma campanha de imagem para que o resto da europa passe a ver portugal como um país onde vale a pena investir e onde há, de facto, vantagens competitivas.

a autoeuropa foi manchete no financial times com um estudo sobre as consequências de portugal sair do euro. fizeram essa avaliação por precaução interna ou indicação da ‘casa-mãe’?

foi uma reflexão interna para termos uma ideia do que poderia acontecer se o euro desaparecesse, não há um estudo concreto. no nosso caso, as consequências não seriam muito negativas, pois somos essencialmente exportadores. até nos beneficiaria, porque teríamos condições de custo vantajosas.

nas conversas que tem com responsáveis alemães sente que isso é uma preocupação?

não é uma questão que se debata na alemanha. não é previsível que o euro venha a acabar.

o que espera para 2012?

ainda é muito cedo para dizer, estamos a fazer a gestão do programa de produção praticamente mês a mês. é certo que as condições no mercado europeu estão particularmente incertas… parece que está tudo suspenso dos próximos acordos a nível da união europeia, que vão ditar o que vai acontecer. mas é óbvio que o mercado está enfraquecido por todas as medidas de contenção orçamental – e agora ainda mais, com a situação italiana. poderá ser um ano razoável e poderá ser um ano muito mau, se as condições se agravarem a um nível que hoje é impensável.

joao.madeira@sol.pt

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