Operação espanhola preocupa Caixa

A operação espanhola da Caixa Geral de Depósitos está a ter um financiamento permanente de cerca de 4.000 milhões de euros desde Junho de 2011.

o banco caixa geral, a filial da caixa em espanha, e a sucursal da cgd têm problemas de liquidez que obrigaram a casa-mãe a canalizar um funding específico para cada uma das estruturas. enquanto o bcg tem um empréstimo de cerca de 3.000 mil milhões de euros, desde 2010, com uma taxa de juro abaixo do valor de mercado e cujo custo para a casa-mãe já ultrapassou os 120 milhões de euros, a sucursal começou a ser financiada pela cgd a partir do verão do ano passado com um financiamento de cerca de 900 milhões de euros.

nas contas da cgd e do bcg, contudo, apenas foi registado como financiamento à filial um empréstimo subordinado no valor de 31 milhões de euros que é «remunerado a uma taxa indexada à euribor a 12 meses», lê-se no relatório e contas de 2010 da caixa.

este facto, ao que o sol apurou junto de fontes do sector, é do conhecimento do banco de portugal, tendo as práticas contabilísticas seguidas pela caixa sido aprovadas pelo supervisor.

o financiamento da caixa deve-se a problemas de liquidez do bcg, seriamente afectado por imparidades na área do crédito imobiliário e do project-finance.

a origem deste problema reside na política de investimento de faria de oliveira, presidente executivo do bcg entre 2005/2007, que duplicou o activo líquido do bcg de 4,6 mil milhões em 2006 para 7,6 mil milhões em 2007.

 

prejuízos transferidos para a sucursal

os problemas de liquidez da filial levaram mesmo a cgd, segundo fontes do mercado financeiro, a preferir registar parte das suas perdas nas contas da sucursal espanhola – prática que, ao que o sol apurou, também é do conhecimento do banco de portugal, responsável pela supervisão da sucursal.

só assim tem sido possível à filial da caixa apresentar resultados positivos desde 2008 – prática que as contas de 2011, segundo apuramos, vão evidenciar novamente. com a excepção de um prejuízo residual de 1,5 milhões de euros em 2009, o bcg apresentou sempre resultados positivos, enquanto a sucursal (que começou a operar em 2007) passou de um prejuízo de 10 milhões de euros em 2008 para 36 milhões em 2010. em 2011, ao que o sol apurou, os prejuízos da sucursal duplicaram para cerca de 70 milhões de euros.

questionado pelo sol sobre as razões legais que levaram o banco de portugal a aprovar a não inscrição nas contas da caixa do referido apoio permanente ao bcg e a transferência dos prejuízos deste banco para a sucursal da cgd, fonte oficial do supervisor bancário português limitou-se a afirmar que «as contas consolidadas da cgd reflectem a realidade económico-financeira do grupo cgd e constituem a base para a avaliação da respectiva situação financeira e de solvabilidade pelo banco de portugal».

o sol questionou igualmente o banco de espanha, mas fonte oficial referiu que «a lei impede que prestemos informações sobre qualquer instituição de crédito específica», afirmou o porta-voz antónio campos. a mesma fonte acrescenta apenas que os empréstimos entre a casa-mãe e uma filial são «normais e regulares».

luis.rosa@sol.pt