Desemprego: uma tragédia

O país precisa de medidas eficazes de combate ao desemprego, desenhadas de forma inteligente e com visão estratégica.

de acordo com os dados, recentemente divulgados pelo ine, relativos ao mercado de trabalho no 4º trimestre de 2011, a taxa de desemprego atingiu os 14%, superior em 1,6 pontos percentuais quando comparada com o trimestre anterior. de acordo com a análise realizada, nunca a taxa de desemprego cresceu tanto de um trimestre para o outro.

esta situação é aterradora e, do ponto de vista político, constitui um trágico sinal de alerta que, obrigatoriamente, deve conduzir à análise crítica das decisões e das políticas seguidas, quer nacionais, quer europeias, que têm conduzido a este desastre.

porque é de um desastre social que se trata, uma vez que o desemprego se traduz sempre em aumento de pobreza, desespero e disfunção social.

olhando para a análise desagregada dos dados, esta dá-nos a conhecer que, a taxa de desemprego juvenil – dos 15 aos 24 anos – subiu de 30,0% para 35.4%, colocando o nosso país na terceira pior situação a nível europeu.

por sua vez, a taxa de desemprego feminino, referente da desigualdade de género, é ligeiramente superior à média nacional. já o desemprego dos licenciados, subiu de 9,4% para os 10,6%, o que significa que as pessoas mais qualificadas não são absorvidas pela economia, o que impede a transformação do nosso modelo produtivo.

também a taxa de desemprego de longa duração subiu 1%, correspondendo, já, a mais de 400.000 pessoas.

finalmente, e numa análise por regiões, apura-se que foi no algarve que se verificou o maior crescimento trimestral, com a taxa de desemprego a registar 17,5%, sabendo nós que o principal produto da região é a actividade turística.

mas não nos podemos ficar pelo diagnóstico. este só é importante para obrigar à acção e à acção competente, capaz de contrariar as tendências negativas e revertê-las o mais rapidamente possível.

temos, repetidamente, chamado a atenção para a importância do desenho de políticas nacionais e europeias voltadas para o crescimento inteligente da economia também para a criação de emprego. porque este é essencial para o nosso desenvolvimento enquanto pessoas.

como bem chama a atenção o grupo ‘economia e sociedade’, em reflexão recentíssima sobre o acordo de concertação social 2012 e invocando a doutrina social da igreja, o trabalho «não é uma mercadoria, independentemente do seu maior ou menor valor objectivo, é a expressão essencial da pessoa, é actus personae… o trabalho é um bem de todos, que deve estar disponível para todos aqueles que são capazes de trabalhar… uma sociedade em que o direito ao trabalho seja atenuado ou simplesmente negado e na qual as medidas de política económica não consintam aos trabalhadores níveis satisfatórios de emprego não pode conseguir nem a sua legitimação ética nem a paz social» (centesimus annus, nº 43).

compreendendo bem esta verdade, a comissão europeia instou os países membros à criação de uma estrutura de trabalho que desenhasse medidas de ataque ao drama do desemprego, que poderiam ser financiadas através da reorientação dos fundos estruturais.

inexplicavelmente, o ministério da economia não foi capaz de criar essa estrutura e a tarefa teve que ser entregue ao super ministro miguel relvas.

a leitura política desta decisão só pode ser a de que soaram as campainhas de alarme em s. bento. mas não basta soarem as campainhas. o país precisa de medidas eficazes de combate ao desemprego, desenhadas de forma inteligente e com visão estratégica, que simultaneamente permitam ‘acudir’ a quem não seja reconvertível e ‘transformar’ o nosso modelo produtivo para que se reoriente para bens transacionáveis e passe a incorporar mais valor acrescentado, através do envolvimento da nossa massa cinzenta altamente qualificada.

se assim não for, cedo verificaremos que, afinal, ainda não atingimos o clímax desta tragédia e isso seria absolutamente desastroso do ponto de vista individual, familiar, social e político.

em época de avaliação pela troika, bom seria que o governo usasse os indicadores de que já dispõe para reformular o programa de ajuda externa, adaptando-o às nossas especificidades e capacidades e orientando-o para um projecto de futuro, com futuro.