Autarcas ameaçam Congresso do PSD [fotos

Passos Coelho propõe-se mobilizar os sociais-democratas para tornar Portugal mais moderno e competitivo a médio-prazo. Mas, no imediato, corre o risco de enfrentar, no Congresso que hoje arranca em Lisboa, a contestação interna do aparelho autárquico. A proposta de extinção de freguesias e as dívidas das autarquias estão a inflamar os autarcas do PSD, que…

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a direcção de passos tem a percepção real da insatisfação que existe entre os autarcas. «os congressos são sempre momentos em que se fazem balanços e em que há manifestações de preocupação. elas hão-de aparecer de certeza», desvaloriza ao sol fonte próxima do líder do psd.

o nervosismo, ainda assim, existe entre alguns dirigentes. «isto não vai ser o congresso dos autarcas», garante fonte partidária, referindo-se à célebre vaia ao ministro-adjunto miguel relvas no congresso da anafre, no algarve. «não há um movimento organizado de contestação, mas os meus colegas são livres de usar o seu espaço de intervenção», explica ribau esteves, vice-presidente da associação nacional de municípios portugueses.

o prazo para entrega, no parlamento, de alterações à proposta de lei sobre a reorganização administrativa só termina na segunda-feira. o assunto ainda está, assim, aberto a discussão. «a intenção foi não fechar o prazo antes do congresso», diz o vice-presidente da bancada carlos abreu amorim.

fora ainda do alinhamento desejado pela direcção – em discussão estarão 16 moções sectoriais –, são expectáveis discussões sobre o exercício presidencial de cavaco e as coligações com o cds.

alberto joão jardim e o autarca fernando costa, aliás, vão introduzir a questão das presidenciais, defendendo um mandato único para o presidente. «no primeiro mandato, são sempre bonzinhos. no segundo, são maus, mauzinhos ou mauzões», avisa, em declarações ao sol fernando costa, criticando cavaco silva por se ter tornado «um factor de crispação» na sociedade.

com as eleições autárquicas no horizonte, as coligações com o cds nos vários concelhos começam já a ser uma preocupação, uma vez que ocds está numa estratégia de ir avançando sozinho.

as autárquicas ocorrerão num momento difícil da governação, setembro de 2013, altura de portugal regressar aos mercados. sendo que o psd também não poderá apresentar candidatos já com três mandatos. se o número de coligações com o cds descer, a queda do psd será ainda maior, alertam dirigentes distritais.

barões pedem rumo ‘de esperança’

o lema escolhido por passos – psd: um partido de causas – reflecte a preocupação do líder em responder aos que esperam do psd um projecto mais ambicioso do que o cumprimento criterioso do memorando da troika.

uma agenda para o crescimento económico, a resposta eficaz aos preocupantes níveis do desemprego e uma maior atenção às desigualdades sociais são causas que muitos sociais-democratas querem ver esta direcção abraçar. 

paulo rangel, eurodeputado, vai defender que o psd «transmita ao país que tem um projecto global para lá do programa negociado com a troika». e explica: «a agenda do governo não se resume ao cumprimento escrupuloso do memorando da troika.pode ter passado essa ideia, mas não é verdadeira».

mais próximo de passos coelho, o agora ministro aguiar-branco prepara-se para fazer uma intervenção mobilizadora, apelando a «um partido mais activo» e à união em torno das medidas da governação. mas não deixará passar a oportunidade de sublinhar que a «narrativa» da proposta de revisão do programa do partido da direcção, que vai a votos, não é a sua – aguiar-branco coordenou a proposta inicial, mas passos reescreveu-a.

mais crítico, o ex-dirigente morais sarmento considera que o congresso «não pode ser a apresentação de resultados da governação» ou «de medidas matemáticas do ministério das finanças». e acrescenta ao sol: «é preciso reforçar a dimensão política da actuação do governo e a dimensão do sonho e da esperança – que é o que faz com que as pessoas adiram a um projecto».

o antigo líder do psd rui machete vai mais longe. coloca a tónica na «credibilidade» do executivo. «partido e governo têm que ser inflexíveis para que a credibilidade se mantenha», defende, em artigo de opinião ontem no jn, pedindo que «a prática não aceite excepções», uma referência às polémicas isenções nos cortes salariais em grandes empresas públicas.

helena.pereira@sol.pt
sofia.rainho@sol.pt