CDS vai blindar deputados

Pulso de ferro. É o resultado da polémica com o voto desalinhado de Ribeiro e Castro no Código de Trabalho. O CDS vai rever o regulamento dos deputados para reforçar as suas obrigações com tudo o que tem a ver com a troika. No fundo, o CDS quer evitar que volte a haver deputados a…

o actual regulamento é do início da década de 2000, ainda do tempo de antónio guterres, e a direcção do cds considera que é preciso actualizá-lo à luz das exigências da governação e também da existência de uma coligação governamental.

ribeiro e castro votou, há uma semana, contra o código do trabalho por discordar do fim do feriado do 1.º de dezembro. nessa mesma noite, este acto de desobediência dominou a reunião do conselho nacional, com críticas generalizadas ao ex-líder do cds e mesmo desafios a que se demita de deputado.

ao sol, ribeiro e castro diz que se sentiu «muito hostilizado». «o cds merece debates mais serenos e não uma bulha pessoal», afirmou, acrescentando que não tenciona passar a deputado independente ou abandonar o cargo de presidente da comissão de educação.

o ex-líder do partido tinha pedido liberdade de voto ao chefe da bancada e, na véspera da votação, avisou, por sms, nuno magalhães que iria votar contra o código do trabalho.

o deputado vai continuar a defender a manutenção do 1.º de dezembro, na discussão na especialidade. propõe, em alternativa, que o 10 de junho passe a ser comemorado no segundo domingo de junho. o cds apresentou uma proposta para que o 1.º de dezembro seja comemorado oficialmente, apesar de não ser feriado, mas isso não chega para ribeiro e castro, que, no limite, admite apresentar um projecto para repor o feriado.

 

tolerante no aborto e nas adopções gay

paulo portas deu instruções bem claras aos dirigentes do cds e aos seus deputados para «não alimentarem qualquer polémica» com ribeiro e castro. a ideia, é deixar o ex-líder centrista a falar sozinho.

além do ‘caso’ ribeiro e castro, a reunião do conselho nacional do cds acabou por ser dominada pelo chumbo de uma moção que defendia a linha mais conservadora em matéria de costumes – aborto, adopção gay, eutanásia e procriação medicamente assistida – apresentada pelos membros do movimento alternativa e responsabilidade. a moção exigia a disciplina de voto nas questões que agora até já «fracturam» o cds – numa alusão ao voto favorável do deputado adolfo mesquita nunes e à abstenção de joão rebelo no projecto de adopção por casais do mesmo sexo. mas esta linha foi derrotada pela esmagadora maioria dos conselheiros nacionais.

na reunião, portas justificou esta «flexibilidade» do partido com a obrigação de cumprir aquilo com que se comprometeu na campanha eleitoral, em que apelou ao voto de «muitas pessoas que tradicionalmente não votam no cds», garantindo-lhe que não tinham de concordar com tudo o que o cds pensava ou dizia.

posto isto, portas acrescentou que o que está em causa é «ser leal aos eleitores» e que por essa razão não será impositivo na doutrina do cds, pelo que em relação a estas matérias vai «respeitar os casos em que, um ou outro deputado, faça uma leitura pessoal da matéria».

ou seja, esta é uma consequência inevitável das «dores de crescimento» do cds. e, apesar de garantir que a doutrina do partido se mantém, e por isso há sempre indicação de voto nestas matérias, portas defende que tem de ser dado espaço a questões de consciência – ainda que esta gestão tenha de ser feita «com muito cuidado».

«portas tem que gerir isto com muita flexibilidade. o_cds vai de ribeiro e castro a adolfo mesquita nunes», afirmou ao sol fonte próxima do líder.

para paulo portas, a indisciplina de mesquita nunes e joão rebelo é muito diferente do caso de ribeiro e castro. no primeiro caso, estava em causa matérias que nem sequer constavam do programa eleitoral ou de governo (decorreram de projectos do be e ps) e, no segundo caso, estava-se perante matéria acordada em concertação social, sob imposição da troika.

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