quando nutrimos sentimentos de raiva e ódio profundos por alguém que já amámos, isso também pode significar que ainda amamos aquela pessoa, às vezes, mais do que nunca. outro autor francês, roger de rabutin, escreveu que quem não ama demais, não ama o suficiente. o amor ou é total ou é sempre insuficiente, porque um homem que diz amar uma mulher, ou nos ama acima de tudo, ou então não nos serve para nada.
nenhuma mulher gosta de se sentir the second best. no início de uma relação, as mulheres ansiosas – e também as mais inexperientes – forçam a definição e procuram a perfeição. já as cautelosas, deixam correr o marfim e usam o bom senso para não projectar: o que for será, e depois logo se vê. mas com o andar da carruagem, todas queremos o mesmo: não apenas um homem que nos ame, nos deseje, nos proteja e nos admire, mas que sinta e faça tudo isso, acima de todas as coisas, acima de todas as outras mulheres.
quando amamos não precisamos só de fusão, precisamos de exclusividade. esta vontade do tudo ou nada não é racional e nem sempre é possível, mas as mulheres agarram-se a ela como um dogma, guiam-se por ela como os velejadores se guiam pelas constelações e nunca deixam de acreditar que esse homem existe.
acredito no amor total. acredito que posso acordar todos os dias ao lado de um homem sem nunca me cansar da sua presença, e que posso sentar-me todas as noites ao seu lado acertando o ritmo das duas respirações quando encosto a cabeça no seu peito. acredito que uma vida a dois pode ser uma aventura venturosa e vitoriosa, apesar dos contratempos, dos maus ventos e das tempestades. acredito que o amor, quando é feito de riso e de entendimento, de paz e de protecção, de sonho e de realidade, de coragem e de entrega, vence sempre. mas acredito no amor sem medo, sabendo que quase ninguém o encara da mesma forma. acredito que o amor é sobretudo feito de vontade: vontade de sonhar e de concretizar, de dar e de receber, de ouvir e de ajudar, de proteger e de amparar, de estar lá quando é preciso, porque numa história de amor verdadeira é sempre o outro, ou melhor ainda, somos sempre ‘nós’, enquanto terceira entidade, que estamos lá um para o outro, um com o outro e um pelo outro – aconteça o que acontecer, der no que der.
aquele que amo pode não ser perfeito, mas é com quem consigo construir a relação perfeita, tijolinho a tijolinho, como uma casa de legos, que posso transformar todos os dias, ajustando-a ao que mais precisamos os dois para sermos felizes. se é verdade que o amor é uma construção, também é verdade que só se constrói sob bases sólidas. quando olhamos para o outro e não vemos mais nada, então é porque ele é tudo para nós. e só vale a pena se o outro sentir o mesmo. senão, mais vale atirar a toalha ao chão e seguir em frente. porque há mais vida, e haverá certamente mais amor.