o desemprego foi assumido como a maior preocupação do governo. porque razão os últimos valores ficaram tão acima do inicialmente previsto?
o desemprego e a emigração têm vindo a aumentar nos últimos 10 anos por uma simples razão: a economia portuguesa não cresce de forma sustentada há cerca de 10 anos. mas, sim, tem havido uma aceleração do ritmo do desemprego, devido à crise. agora temos de colocar todos os recursos disponíveis ao dispor do seu combate.
quando prevê que comece a descer?
é preciso implementar as reformas estruturais para libertar o crescimento económico, que irá baixar o desemprego.
mas essas reformas só terão efeitos no médio/longo prazo…
sim. temos, por isso, de adoptar políticas activas de desemprego no curto prazo, que são muito importantes para atenuar a subida.
a assembleia da república aprovou a revisão do código laboral. há um risco de uma nova vaga de despedimentos facilitada pelas novas regras?
não. se estamos a flexibilizar a contratação e a utilizar mecanismos para tornar as empresas mais competitivas, estamos também a promover o emprego.
um estudo do banco de portugal mostra que o mercado do trabalho português é mais flexível. o governo não está a ir longe demais?
o governo está a fazer o que está a ser defendido por várias organizações internacionais e economistas que estudam o mercado laboral nacional há muitos anos. o nosso mercado é muito segmentado, com muitos direitos para muitos, ao mesmo tempo que há um nível de precariedade excessivo, sobretudo para os mais jovens.
o crescimento voltou a estar nas bocas do mundo como uma prioridade. o governo admite flexibilizar as metas do défice de 4,5% para este ano, de forma a ser criada uma almofada de dinheiro para injectar na economia?
o importante é garantir a credibilidade que temos vindo a conseguir aumentar nos últimos meses.
como vai colocar a economia a crescer no curto prazo, neste clima de austeridade, sendo que as reformas estruturais não têm efeitos imediatos?
deitar dinheiro para cima dos problemas e pensar que a miragem do investimento público nos irá levar ao crescimento público é uma total fantasia, como ficou provado nos últimos anos. após a crise de 2007/2008 foram injectados centenas de milhões de euros e qual foi o resultado? uma dívida insustentável que não resolveu problema nenhum, antes pelo contrário. só se consegue ter uma verdadeira política de crescimento através de reformas estruturais e nós isso já fizemos. portugal está a dar provas ao mundo de que quando há ambição e determinação é possível. estou convicto de que seremos o caso de sucesso da europa em termos de crescimento.
sendo portugal o bom aluno a esse nível, com a crise na zona euro, o governo admite aligeirar algumas das metas ou vai continuar na saga da austeridade?
temos de continuar a agenda das reformas estruturais e concretizá-las o quanto antes, para ter esse efeito na economia. é preciso haver um equilíbrio entre austeridade e crescimento.
a quebra abrupta no consumo não pode ser perversa e deixar o país anémico?
o ajustamento a curto prazo era absolutamente necessário para uma economia mais equilibrada.
e se as pessoas morrem da cura antes de serem tratadas?
não vai acontecer, não estamos obcecados com a austeridade, como somos acusados.
o vice-presidente do psd, moreira da silva, defende que a europa precisa de um plano marshall para combater a recessão. partilha desta opinião?
muitos governos europeus têm falado na necessidade de reformas estruturais e portugal já está a fazê-las. no curto prazo temos dois grandes problemas: o desemprego e a liquidez. é portanto essencial que a nível europeu o reforço da liquidez também para as nossas pme seja cada vez maior.
as empresas queixam-se das dificuldades na obtenção de crédito, sendo que muitas delas têm projectos viáveis, mas acabam por não resistir devido aos problemas de tesouraria. como é que se resolve esta questão?
temos consciência desse problema há vários meses e é por isso que, entre outras coisas, alargámos o prazo das pme investe em setembro, reforçámos os seguros de crédito às exportações e lançámos a nova linha pme crescimento no início de janeiro e estamos já a trabalhar para o seu reforço. até ao final da primeira semana de junho a segunda tranche do empréstimo bei, no valor de 500 milhões de euros, vai chegar para alavancar o qren para apoiar projectos privados. mais uma vez esta é uma mudança de paradigma, porque antes os fundos comunitários estavam sobretudo orientados para os grandes projectos públicos e agora para o privado.
dentro de casa tem um grande problema com as dívidas do sector empresarial do estado que continuam a crescer. já apresentou à troika o documento que lhe foi solicitado com a situação das dívidas e com o plano para resolver o problema?
esses são temas que estão a ser discutidos com a troika. o combate à dívida das empresas públicas tem de ser feito por duas vias. por um lado, temos de continuar a reduzir os custos operacionais e prevemos que o equilíbrio operacional seja conseguido no final deste ano. por outro lado, é evidente que temos de ter uma solução para resolver essa dívida que é verdadeiramente muito grande.
em que modelo estão a trabalhar?
assim que essa solução esteja definida logo diremos.
a solução passa pela criação de um veículo que concentre os créditos para ser colocado no mercado? este está a ser já negociado com a banca e com a troika?
não vou comentar.
sofia.rainho@sol.pt e tania.ferreira@sol.pt