Censura à vista

A oposição faz um balanço negativo do primeiro ano do Executivo. Mas faz também uma promessa: uma moção de censura ao Governo. Quando? No momento em que este pedir nova ajuda à  troika  – algo que na oposição muitos vêem  como inevitável e que até no PSD já se começa a ouvir.

«um segundo resgate será um momento de
grande clarificação. os portugueses não deram mandato a este governo para um
segundo resgate»
,
afirmou ao
sol
o deputado e
dirigente do be, joão semedo, admitindo que, nessa altura, a moção de censura é

«uma
possibilidade»
.

o actual programa negociado com a
troika
termina em setembro
de 2013. mas a avaliação sobre um prolongamento do memorando ou um segundo
programa terá que ser feita mais cedo, por causa do regresso aos mercados.

o líder parlamentar do pcp, bernardino soares,
acredita que o pior cenário vem a caminho:
«vamos ver se, mantendo-se o
agravamento da situação, o novo pacote não virá até mais cedo»
do que em 2013.


ps prepara-se para um ‘estado da nação’ arrasador

o ps prepara-se para uma censura política –
mas discursiva, sem moção – por ocasião do discurso de passos coelho sobre o
estado da nação, a 11 de julho. e promete que não apoiará mais uma medida de
austeridade que seja
.
«
não só é preciso
mais um ano
[para aplicar o plano
de ajustamento financeiro]
como recusamos qualquer medida adicional de
austeridade decorrente da quebra da economia e seus efeitos orçamentais»
, transmitiu antónio
josé seguro na reunião com a troika.

ou seja, o ps_avisa já o governo que o
apoio a um orçamento rectificativo com mais austeridade está fora de causa. por
maioria de razão, um segundo pacote de resgate é algo de que o ps se demarca.
seguro já disse publicamente:
«um segundo pacote de ajuda seria um estrondoso
falhanço do governo»
.

para já, prepara-se o estado da nação. será
feito um conjunto de iniciativas de balanço da governação, sector a sector, com
a presença de personalidades da sociedade civil – de sindicalistas a médicos,
economistas e operadores da justiça – numa espécie de ‘moção de censura’
extra-parlamentar, que servirá para mostrar a alternativa do ps, apurou o sol.

no site do partido, são pedidos os
contributos dos militantes e apoiantes :
«deixe-nos a pergunta que gostaria que
fosse feita ao governo no debate do estado da nação»
.

mas o ps já tem algumas propostas: à troika,
pediu apoio para um banco de investimento que injecte dinheiro na economia,
que poderia ser feito
«dentro da caixa geral de depósitos»
ou
«pela criação de
um novo»
, esclarece fonte
socialista.

ontem, óscar gaspar, responsável pelas finanças
no gabinete de seguro, esteve reunido com os socialistas da europa.
«a criação de
bancos  públicos de fomento vai ser o
novo capítulo de discussão europeia – articulados com o bei (banco europeu de
investimento)»
,
diz um elemento da direcção do ps. 

no balanço de um ano de governação, o ps
sublinha, para já, além da austeridade em excesso, o atraso de várias reformas
estruturais previstas no memorando da troika, cuja
«derrapagem
indiscriminada e generalizada é notória»
. exemplos: faltam medidas de combate ao
abandono escolar, a reforma da justiça
«foi adiada»
e o desemprego é galopante.


faltam reformas
estruturais

o balanço do be tem pontos de contacto com
os socialistas. joão semedo destaca o desemprego, que
«ultrapassou todas as expectativas»
, a redução do consumo
e o aumento das listas de espera na saúde.
«o governo está muito concentrado na
obsessão financeira»
, acrescenta.
«reformas estruturais, não se vislumbram. um rumo
para o país, também não»
. há ainda
«um atraso inexplicável no domínio da justiça»
.

os números do desemprego preocupam igualmente o pcp.
«o governo
aplicou uma política centrada não só no memorando da troika, mas em
medidas que constituem um retrocesso social enorme, uma recessão preocupante e
um aumento grande do desemprego»
, resume bernardino soares.
«um ano depois, o
país está muito pior e com piores condições para recuperar»
.

helena.pereira@sol.pt
e manuel.a.magalhaes@sol.pt