mulher do norte, de gestos largos e cabelos compridos e ondulantes, vânia ocupa, aos 35 anos, o lugar de sub-secretária de estado do ministro dos negócios estrangeiros (mne), uma função de grande confiança do ministro e líder do cds. dirige o gabinete a que portas também tem direito no 6.º andar da presidência do conselho de ministros (pcm) por ser ministro de estado. é, no entanto, a cara mais desconhecida deste governo e, por isso, nunca foi reconhecida na rua.
a sub-secretária de estado é, na verdade, uma antena de tudo o que passa no governo e mantém actualizado o ministro. «falamos todos os dias ao telefone, mesmo quando está fora do país. ele é uma pessoa muito atenta e preocupada». nos anteriores governos, não existia este cargo – foi uma invenção de portas, que se parece ter inspirado nos governos de cavaco silva, que hierarquizava muito bem as tarefas de secretários de estado e sub-secretários.
aparentemente, esta jurista, natural de guimarães, preenche todos os requisitos de uma mulher do cds. votou contra a despenalização do aborto, é contra quotas para as mulheres, não coloca na agenda o casamento gay, assume-se como conservadora, adora as tradições, a praxe académica de coimbra, onde estudou, e até o cozido à portuguesa.
ainda mais do que isso: vânia dias da silva é da geração-portas. significa isso que cresceu politicamente enquanto lia os editoriais do semanário o independente. aderiu ao cds quando já toda a gente sabia quem era ‘o monstro e o seu criador’, ou seja, manuel monteiro, sob os holofotes, e, paulo portas, o teorizador. no congresso de braga, que entronizou portas, estava lá como delegada.
antes do convite para o governo, vânia estava a trabalhar como adjunta do vereador da protecção civil da câmara do porto, manuel sampaio pimentel e reagiu com orgulho ao convite. foi assim viver para lisboa pela primeira vez. em guimarães, onde regressa todos os fins-de-semana, deixou o marido, os pais e os amigos. «o que mais custa é a distância de casa. mas gosto muito da luz de lisboa, embora pensasse que a cidade tinha mais sol. descobri que afinal também chove em lisboa», diz, enquanto olha pela janela do edifício alto e feio da pcm, que foi construído para ser um hotel no estado novo e que se tornou num centro nevrálgico do poder político.
sem muito tempo para gozar os tempos livres, confessa que canta «pessimamente» e talvez por isso o seu género de música preferido seja o jazz. fã de jan garbarek e dos filmes de emir kusturica, não hesita em escolher a ex-comunista rússia como a viagem de sonho, embora tenha pânico de andar de avião. «continuo a andar, mas não percebo por que tenho medo que o avião caia e este medo está a aumentar com a idade».
helena.pereira@sol.pt e sofia.rainho@sol.pt