Aguiar-Branco: ‘Não é o relatório do FMI que vai a votos’

José Pedro Aguiar-Branco diz que cabe ao Governo escolher as opções mais sensatas do cardápio do FMI. Quanto ao CDS, o ministro da Defesa diz que há «convergência nos momentos críticos».

leu o relatório do fmi? que reacção teve?

não vou debater o relatório. é um contributo para ajudar o governo a encontrar caminhos para, na revisão do estado, o governo fazer o melhor possível. vamos recolher as propostas aceitáveis e, uma vez apresentada a nossa proposta, discuti-la-emos. faz-se um drama à volta de uma matéria que não tem drama nenhum.

acha que não tem drama? as pessoas ficaram em pânico com despedimentos na função pública e cortes nos salários e pensões.

não se pode misturar tudo de uma forma descontextualizada. só quando o governo apresentar as suas propostas é que estará definida a sua posição. não é o relatório do fmi que vai a votos.

que cuidados deve ter o governo quando decidir?

encontrar as medidas mais correctas e mais sensatas para o resultado que deseja atingir.

o governo tem menos de um mês para apresentar à troika as suas propostas. não é pouco tempo?

esta discussão não é de agora. é uma matéria que está a ser pensada e avaliada desde agosto.

marques mendes teme que este dossiê possa ser uma próxima tsu para o governo.

é natural que seja um debate difícil, pois estamos a tocar em matérias sérias. mas espero que o ps ainda participe no debate porque é importante para o clima de consenso que estas medidas exigem.

há pouco disse que há propostas aceitáveis. o que há no relatório que não é aceitável, quer clarificar?

num diagnóstico tão vasto como aquele, tem, como é óbvio, medidas aceitáveis e outras que não serão. não vou debater o relatório do fmi.

confia que este debate não traga surpresas dentro do governo como trouxe o debate do oe, nomeadamente com o cds?

há uma tendência para valorizar as coisas menores e desvalorizar as maiores. há um oe que foi aprovado por esta maioria, o governo está confiante na execução do oe. esse é o resultado final que devemos valorizar. é natural que nem sempre os dois partidos pensem igual em todas as matérias. psd e cds nunca serão um só partido, é uma coligação. mas, em momentos nucleares, tem havido coesão e convergência de opiniões.

e este é um momento nuclear.

esta realidade não nasceu hoje. a cronologia é importante para a análise. a necessidade de rever as funções do estado foi analisada em agosto e em outubro o senhor ministro das finanças referiu que isto ia ser feito. não compreendo como é que daí resulta uma expectativa de instabilidade.

já fez parte de um governo de coligação com o cds, com santana lopes. comparando, esta coligação tem sido mais fácil ou mais difícil?

este tem sido um governo com uma grande exigência – como nenhum outro em democracia. e, no essencial, tem havido sintonia nos momentos certos.

é público que o cds não partilha da política financeira do governo.

psd e cds nunca serão um só partido, não se pode ir por aí. há dois partidos coligados e é natural que não estejam 100% de acordo em todas as matérias. no que é importante e nuclear para a estabilidade da governação, esta convergência tem existido.

acredita que o governo chegará ao final da legislatura?

por que é que não há-de chegar? não me peça para antecipar cenários hipotéticos. é indiscutível que tem havido convergência nos momentos críticos.

[sapovideo:qejng6jhglta0fsjygia]

david.dinis@sol.pt

helena.pereira@sol.pt