‘Temos a obrigação de baixar impostos’

Um ano depois da assinatura do acordo de concertação social, o ministro da Economia e do Emprego promete «fazer tudo» para salvar o entendimento. A reforma do Estado vai ser discutida com os parceiros sociais e em breve haverá novidades sobre as indemnizações. O governante admite que a carga fiscal do país é muito elevada,…

como se gere o equilíbrio entre o ministério da economia e o das finanças?

de uma maneira simples: percebendo de uma forma clara que, além dos dossiês que temos em conjunto – como as privatizações, empresas públicas, em que há um contacto muito regular – tem de haver equilíbrio entre austeridade e crescimento. é fundamental termos medidas que impulsionem o crescimento e o investimento.

sente dificuldade em passar essa mensagem às finanças?

penso que não há antagonismo entre austeridade e crescimento. um dos problemas do memorando inicial era a ausência de medidas de apoio ao investimento e nós temos vindo trabalhar nesse sentido, até com a própria troika.

na proposta de redução do irc, têm estado articulados com a comissão que foi criada pelas finanças?

o ministério da economia está nessa comissão, por isso estamos articulados por natureza. é importante pensar a competitividade fiscal a dois níveis. uma a curto prazo, para impulsionar o investimento. mas também numa perspectiva de médio prazo. é importantíssimo haver uma descida faseada, em cinco a seis anos, para termos a taxa de irc mais atractiva da europa. não vejo alternativa. um governo de centro-direita que está preocupado com a competitividade da economia tem por obrigação baixar os impostos.

mas não só para as empresas?

não só para as empresas. temos de preparar o terreno para assim que possível, quando passar o período de emergência, podermos baixar os impostos.

a carga fiscal não está a afectar a economia?

todas as questões da competitividade são importantíssimas. por isso, concentrámo-nos nas reformas económicas de reforço da competitividade. já perguntei à própria troika, nomeadamente ao fmi, se há alguma reforma económica que não está feita e que eles gostariam que fosse implementada. e até hoje as principais estão todas feitas ou no terreno.

sente que no último ano ganhou peso político?

eu respondo à questão do peso político com trabalho. tenho a convicção absoluta de que estamos a fazer o que é certo para a economia nacional. se virem as ideias que defendo hoje, são as que defendo há anos, e são essas reformas que estamos a fazer. respondo sempre às críticas com trabalho e determinação.

em algum momento pensou em desistir do cargo devido a dificuldades ou cansaço?

nunca na vida deitei a toalha ao chão. e isso não iria acontecer quando decidi vir para um lugar em que a intenção é ajudar o meu país. pelo contrário, todos os dias tenho consciência de que o que o ministério está a fazer é fundamental.

das medidas que defendia antes de vir para o governo, há alguma que ainda gostasse de aplicar?

temos de apostar, mais cedo ou mais tarde, em medidas de apoio à natalidade. a questão demográfica é crítica e é fundamental termos esse debate. o governo já avançou com o visto familiar e a atracção dos nossos emigrantes e o envolvimento da nossa diáspora é muito importante. vamos lançar o programa valorizar, que visa fomentar o empreendedorismo de base local. o incentivo à natalidade tem de passar exactamente pelo combate às assimetrias regionais.

leia mais: ‘tudo farei para manter o acordo de concertação’

joao.madeira@sol.pt e tania.ferreira@sol.pt