Açoreana Seguros: ‘O grupo Caixa interessa-nos’

Dois anos após a compra da Global, a companhia de seguros do Banif fechou 2012 com lucros e reforçou o rácio de capitais para o dobro do exigido pelas autoridades. Valorizou-se com a dívida pública, no ano passado, e admite agora ir ao aumento de capital do banco do grupo «se o investimento for interessante»,…

com a reestruturação do grupo banif, como ficou a açoreana em termos accionistas?

tudo igual, só que em vez de sermos do banif sgps, somos do banif banco. de resto, não mudou nada.

falou-se na possibilidade de a açoreana vir a ser uma das tomadoras do aumento de capital privado que será feito no banif. é verdade?

porque não? mas ainda não está nada definido. quando se souber as condições da operação, que tem de acontecer até ao fim deste semestre, vamos analisar numa lógica de investimento puro. se o preço de entrada for bom e a avaliação do risco for interessante, pode ser que aconteça.

e quanto é que poderão vir a investir no capital do banif, caso decidam favoravelmente?

não posso responder à questão, neste momento.

várias instituições financeiras portuguesas conseguiram melhorar os resultados de 2012 com a dívida pública. como foi no vosso caso?

também beneficiámos, sendo que não temos feito trading. isso faz com que, no nosso caso, haja contributo para a margem de solvência, mas não para a conta de exploração. os capitais próprios da companhia subiram 40% ao longo do ano, para mais de 160 milhões de euros, e ficámos com mais do dobro do mínimo exigido em termos de rácios de capital.

tiveram de registar imparidades?

em 2011, só da grécia reconhecemos 14 milhões de euros. no ano passado tivemos de registar novamente, mas muito menos, à volta de três milhões. além disso, temos cerca de quatro milhões de espanha, com o bankia. as imparidades somam um total de 10 milhões de euros em 2012 e mesmo assim conseguimos ter um resultado líquido de 10 milhões de euros.

hoje optam por investir em quê?

genericamente, estamos mais direccionados para investir em obrigações corporativas do que em dívida soberana, porque acreditamos que há aí oportunidades interessantes. temos mais disponibilidade para investir em acções do que tínhamos, numa perspectiva de longo prazo.

continuam a ter interesse na privatização da caixa seguros?

sem dúvida. uma empresa como a nossa, com 7% de quota de mercado e a segunda maior em protecção para acidentes de trabalho, não pode não estar atenta a uma eventual privatização da caixa.

acha que há condições para a operação avançar este ano?

quem manda aqui são os compradores e não os vendedores. ou seja, o que está a afectar estas operações de privatização em portugal não são os riscos das empresas em si, mas a percepção que o mercado tem do país. e o sentimento em relação a portugal tem vindo a melhorar de forma significativa nos últimos tempos.

e há outras oportunidades no mercado segurador nacional?

haverá com certeza.

cerca de dois anos depois da aquisição da global, a estratégia da açoreana é agora voltar às compras ou o crescimento orgânico?

este é um momento de consolidação, ainda é cedo para pensar noutras coisas, a não ser que surja a caixa seguros. queremos que 2013 seja um ano de estabilidade e de aperfeiçoamento do que temos vindo a fazer.

já estão pagos os 140 milhões de euros que pagaram pela global?

em valor actual líquido (val) sim, mas em cash não. isso vai demorar anos. só em poupanças, por via dos custos e da valorização já está mais do que pago. se revendêssemos a companhia, o que segundo eu saiba não está nas intenções dos accionistas, já seria incorporado o valor. se o governo fizer com o país o que fizemos com a companhia, estou tranquilo. dois anos depois, tudo o que tem a ver com a fusão está resolvido. juridicamente, com os agentes, as marcas, a estrutura de trabalhadores, tudo. e já estamos a ganhar quota de mercado.

está confiante no trabalho do governo?

como fez a nível dos impostos, agora tem de trabalhar os custos e concretizar os temas do crescimento. e com rapidez. estamos num momento crítico do país, mas também acho que nunca estiveram reunidas tantas condições para se atacarem os problemas. agora é preciso o governo tomar decisões.

sentem que a fraude nos seguros aumentou com a crise?

sem dúvida. historicamente apenas existia no automóvel, e agora é também um problema nos acidentes de trabalho, por exemplo. temos 12 milhões de euros de fraude identificada em 2012, num total de prémios de cerca de 430 milhões de euros. temos inclusivamente agora uma equipa de cerca de 100 pessoas a trabalhar para identificar as fraudes. em 2011, tínhamos registado 10 milhões de euros. mas ainda não sabemos se é porque agora há mais, ou porque afinámos a nossa forma de detecção de fraudes.

tania.ferreira@sol.pt