se transgredir, não tenha ambições políticas. ou pelo menos não pense em convencer um cônjuge ou familiar a assumir umas das suas infracções no trânsito. no reino unido, onde o muito lusitano acto de fugir à multa é considerado uma ofensa grave às autoridades, foi dessa forma que terminou a carreira de um dos mais promissores políticos britânicos.
chris huhne, 58 anos, um dos principais líderes dos liberais-democratas, ministro da energia e das alterações climáticas do governo de david cameron até há um ano, começou esta semana a cumprir uma pena de oito meses de prisão efectiva por em 2003 ter convencido a agora ex-mulher vicky pryce a assumir uma multa por excesso de velocidade. huhne tinha sido apanhado pelos radares a acelerar na auto-estrada m11, entre londres e o aeroporto de stansted, ao volante do seu bmw, a 12 de março desse ano. também em 2003, já havia passado três meses sem carta por falar ao telemóvel enquanto conduzia, e o excesso de velocidade, a juntar a uma lista considerável de outras infracções, ter-lhe-ia valido a apreensão definitiva da licença.
lavar a roupa suja em público
a mentira salvou-o provisoriamente, mas tornou-se um ruidoso esqueleto no armário do político em ascensão. até que o casamento de 26 anos e três filhos ruiu. huhne e vicky separaram-se em 2010 depois do então deputado dos liberais-democratas, que por duas vezes concorreu à liderança do partido, ter sido fotografado pelos tablóides num momento de romance com a sua assessora de imprensa, carina trimingham.
a separação não foi amigável, tendo vicky corrido para os jornais a contar a história do político moralista que fugia às multas – huhne fazia da reputação a sua imagem e negócio, tendo sido um pioneiro na área das agências de notação financeira (fundou a sua e trabalhou mais tarde para a fitch). o lavar de roupa suja prosseguiu em tribunal, onde vicky acusou huhne de a ter coagido a mentir à justiça. descreveu o marido como um tirano que a tinha obrigado a abortar duas vezes e acabou por envolver os filhos na batalha familiar e judicial, apresentando como prova as mensagens de telemóvel trocadas entre estes e o pai, nas quais huhne era criticado por fazer sofrer a mãe. hoje, o político e os filhos não se falam.
depois de haver afirmado reiteradamente não ter mentido às autoridades, huhne acabaria por assumir a culpa em fevereiro. nessa altura, já tinha renunciado aos cargos de ministro do governo do conservador cameron e de deputado do terceiro grande partido britânico. no entanto, rejeitou todas as acusações de coacção sobre vicky, e aí o tribunal deu-lhe razão. a ex-mulher de huhne acabou por ser duramente criticada pelos juízes, que a consideraram uma pessoa «manipuladora» e «perversa».
tanto o ex-ministro como a sua ex-mulher acabaram condenados, nesta segunda-feira, pelos crimes de obstrução à justiça e falsas declarações, exactamente dez anos após a fatídica viagem para stansted. ouviram a sentença lado a lado, sem nunca cruzar o olhar, sem qualquer cumprimento ou gesto de cortesia. dali saíram separados, em carrinhas celulares, para a prisão. na viagem, tiveram a companhia de outros dez detidos que os terão insultado depois de os reconhecerem da televisão.
um ministro atrás das grades
condenado a oito meses de cadeia, o antigo casal deverá cumprir dois atrás das grades e pelo menos outros dois em prisão domiciliária, sendo que os seus advogados consideram expectável que lhes seja concedida a liberdade condicional durante a segunda metade da pena.
huhne é agora o primeiro membro do executivo britânico atrás das grades desde 1999, quando o antigo secretário do tesouro do governo de john major, jonathan aitken, foi condenado por perjúrio ao processar jornalistas que o acusavam correctamente de relações pouco éticas com empresários árabes. aitken, que mentiu em tribunal, seria condenado a 18 meses de prisão, cumprindo sete.
desde segunda-feira, huhne tem por companhia presos de delito comum na cadeia de wandsworth, sul de londres, partilhando cela com outro detido. a prisão em causa é especialmente problemática, servindo como um centro de distribuição de recém-condenados. huhne deverá ser transferido nos próximos dias para uma penitenciária de baixa segurança em sussex, descrita pela imprensa britânica como uma prisão de cinco estrelas.