no raio de visão de un, no outro lado de um pequeno estreito, estava a ilha sul-coreana de baengnyeong, onde os seus 5.000 habitantes vivem por estes dias sob alerta de uma acção militar iminente. precedentes não faltam. em 2010, 46 marinheiros sul-coreanos morreram naquelas águas quando o seu navio, o cheonan, foi torpedeado por um submarino do norte. meses depois, quatro pessoas pereceram no bombardeamento da ilha vizinha de yeonpyeong.
é esta paz podre e intermitente que un veio esta semana dinamitar ao declarar inválido o armistício de 1953 e ao fechar a única linha de comunicação directa entre o regime do norte e o governo democrático do sul. estas acções e as ameaças mais recentes, incluindo ainda o anúncio de um possível «ataque militar preventivo» contra os estados unidos, surgem depois de o conselho de segurança das nações unidas ter aprovado um novo pacote de sanções financeiras e diplomáticas contra pyongyang, punindo o último ensaio nuclear e o teste de um míssil intercontinental.
a subida de tensão acontece ainda numa altura em que os eua e a coreia do sul levam a cabo os seus exercícios militares conjuntos anuais, envolvendo cerca de 15.000 soldados.
os analistas dividem-se entre os que consideram credíveis as recentes ameaças de un e os que as reduzem a propaganda para consumo interno. o norte já ‘rasgou’ o armistício uma dezena de vezes ao longo dos últimos 20 anos, e desligou a linha telefónica pyongyang-seul em cinco ocasiões desde 1971. o corte de comunicações não é sequer total: o complexo industrial conjunto de kaesong continua a laborar.
por outro lado, e pela primeira vez na história do conflito, a coreia do norte dispõe de ferramentas que lhe permitem concretizar as recorrentes ameaças de aniquilação total: em teoria, toda a coreia do sul, japão e os territórios norte-americanos do alasca e do havai estão agora sob alcance do arsenal nuclear norte-coreano.
un poderá apenas estar a enviar uma mensagem. entre os seus destinatários, nesse caso, estará o próprio regime norte-coreano, onde destacados líderes políticos e militares põem em causa, em privado, a autoridade do chefe de estado de 28 anos. a china também será indirectamente visada pelo discurso belicista, depois de ter condenado o último ensaio nuclear de pyongyang e iniciado um discreto afastamento em relação ao aliado coreano.
a sul, cresce o nervosismo em torno das diatribes de un mas também do longo processo de formação do governo da recém-eleita presidente park geun-hye. a oposição continua a bloquear a nomeação do novo ministro da defesa, kim byung-kwan, que já alertou para os riscos de um impasse político: «pressinto uma enorme ameaça. jamais deveria haver o menor vácuo na defesa nacional, muito menos agora, numa altura de grande perigo».