Depósitos em Portugal imunes a Chipre

Os portugueses estão a dar sinais de confiança nos bancos. Não se regista, para já, qualquer situação de stress no levantamento de depósitos, na sequência da crise no Chipre, garantiram ao SOL fontes das principais instituições financeiras a operar em Portugal.

“não temos notado nenhum movimento anormal de saída de recursos do banco resultante da situação em chipre”, declarou ao sol fonte oficial do barclays portugal, admitindo que o banco começa, no entanto, “a notar mais pedidos de esclarecimentos da parte de clientes sobre este caso de chipre”.

também o deutsche bank portugal garantiu ao sol, segundo fonte oficial, que “não tem havido um maior levantamento de depósitos” nas últimas semanas. “aliás, nem vemos razões para que tal suceda”, acrescentou.

ainda que estes dois bancos estrangeiros sejam os únicos a aceitar falar abertamente sobre a situação – bcp, bes, bpi e cgd foram alguns dos contactados, sem que tenha sido possível obter comentários oficiais sobre o assunto – a mensagem que passa do lado das grandes instituições financeiras nacionais é de serenidade, tal como no banco de portugal (bdp). segundo informações recolhidas pelo sol, até ao momento não está a ser registada no sistema financeiro português qualquer ‘corrida aos depósitos’ por parte dos clientes.

“este é um claro e meritório sinal de confiança dos portugueses nos seus bancos. os clientes percebem que a situação de chipre nada tem a ver com a de portugal e que o sistema financeiro nacional está agora mais robusto, após o recente forte processo de reestruturação de que foi alvo”, analisa um banqueiro ao sol.

por determinação da autoridade bancária europeia e do bdp, os bancos a operar em portugal foram obrigados a recapitalizarem-se e a desalavancar (diminuindo o rácio de transformação de depósitos em crédito) para reforçar os rácios de solvabilidade e liquidez.

o processo foi apertado com a chegada da troika a portugal, que tem vindo a fazer um acompanhamento do sistema financeiro português. no âmbito do programa de assistência externa a portugal, os bancos nacionais beneficiaram de uma ajuda de 12 mil milhões de euros, que foi utilizada em cerca de metade. ou seja, em caso de necessidade, há uma almofada de pelo menos seis mil milhões de euros.


afinal, quem paga a salvação dos bancos?

accionistas/depositantes
a partilha dos custos da falência de um ou mais bancos entre investidores e clientes estará para ficar e não começou no chipre. já este ano, o holandês sns foi resgatado por 3,7 mil milhões e os accionistas e credores juniores viram os seus investimentos reduzidos a zero. e na semana passada a reestruturação das várias cajas espanholas implicou perdas entre 10% e 70% no valor dos investimentos dos clientes. o modelo cipriota de uso de depósitos é inédito na zona euro, mas poderá vir a ser repetido.

contribuintes
este foi o modelo usado no início da crise e nas primeiras intervenções da troika. as falências de bancos eram suportadas na totalidade pelo estado (bpn em portugal e as cajas em espanha, por exemplo) e no caso do sistema financeiro estar em risco, como na irlanda, as instituições eram ‘salvas’ através de um resgate externo, pago na íntegra pelos contribuintes. parte da verba das intervenções na grécia, irlanda, espanha e portugal estava destinada exclusivamente para recapitalizar bancos. o resgate do italiano monte di paschi este ano terá sido um dos últimos exemplos deste modelo.

luis.gonçaves@sol.pt

tania.ferreira@sol.pt