Kim que ladra morde?

«O momento da explosão aproxima-se». Notícia após notícia da agência norte-coreana KCNA e a cada declaração de um alto responsável de Pyongyang, incluindo do Presidente Kim Jong-un, intensifica-se o rufar dos tambores de guerra.

e a semana foi pródiga em acontecimentos que sugerem que um conflito militar de larga escala entre a coreia do norte estalinista e o sul pró-americano estará mais próximo. no fim-de-semana, o regime do norte anunciou ter entrado em «estado de guerra» com o inimigo histórico, dias depois de ter rasgado – pela sexta vez – o armistício de 1952. na terça-feira, foi declarada a intenção de reactivar o centro de produção de urânio enriquecido de yongbyon (um acto sem efeitos no curto prazo).

na quarta, o exército recebeu autorização para poder atacar os eua, e começou a deslocar unidades de lançamento de mísseis para a costa leste. no mesmo dia foi encerrado o complexo industrial conjunto de kaesong, último símbolo de uma tímida mas existente cooperação peninsular. todos estes desenvolvimentos foram acompanhados por uma escalada do estado de prontidão das forças sul-coreanas, chinesas, russas e norte-americanas na região.

no entanto, e apesar do alarme causado, o filme dos últimos dias não é inédito.em 1994, pyongyang ameaçou «transformar seul num mar de fogo». em 2002, prometeu «dizimar os agressores» do sul. há menos de um ano, e já após a chegada ao poder do actual líder da única dinastia comunista do globo, houve menção de uma iminente «guerra sagrada».

chamada de atenção

académicos como o espanhol ramón pacheco pardo, do king’s college de londres, inserem a mais recente ofensiva verbal no contexto de múltiplas transições de poder no extremooriente: a vitória eleitoral da conservadora park geun-hye em seul, a tomada de posse de xi jinping em pequim e o triunfo de shinzo abe em tóquio – três líderes que não têm o desenvolvimento de contactos com pyongyang na sua lista de prioridades.

kim jong-un estará, aponta o especialista em questões asiáticas num artigo no el país, «a chamar a atenção com base em provocações». isto, argumenta, porque o regime norte-coreano precisa de suprir necessidades domésticas ao nível alimentar e energético e porque kim jong-un, economicamente reformista, pretender obter das grandes capitais mundiais a garantia de que o seu regime político será preservado no caso de uma abertura ao exterior – como sucedeu na china, no vietname e agora na birmânia.

no imediato, pyongyang quer ainda ver levantadas as sanções diplomáticas e financeiras decretadas pelas nações unidas ao longo dos últimos anos.

esta suposta previsibilidade das acções e declarações norte-coreanas, afirma pacheco pardo, é sublinhada pelas conclusões de uma reunião recente de um grupo de especialistas sobre assuntos coreanos. os académicos previam em fevereiro que estaria iminente um terceiro ensaio nuclear e uma escalada retórica.

o próximo passo do jogo norte-coreano seria então um abrandamento da ofensiva verbal, um gesto de boa vontade e abertura em relação aos inimigos cortejados.

no entanto, resta uma incógnita na equação coreana – a juventude e inexperiência de kim jong-un, um fanático dos videojogos, dos desenhos animados e da nba, educado longe do regime, na suíça, e que foi a segunda escolha do falecido pai kim jong-il para governar o país.

pedro.guerreiro@sol.pt